31 maio 2023

rui diniz / carta



 
Escrevo-te da noite girassolada dos trópicos. A riviera é
Um velhíssimo meeting de gerações de ébrios. As raparigas,
em Madrid, foram muito amáveis. Mas tenho razões para
voltar a barcelona, talvez no verão. Viajei no comboio
de Paris onde conheci alguns escritores refugiados. Um poeta
das astúrias ria com vinho escorrendo-lhe dos lábios.
Tenho a impressão que em alguns minutos te descrevia
O amor quente que me tomou em Almalfi, onde me lembro
de sebastian. Subitamente, num outono escuro, em Pádua de
que já falei, estive toda uma tarde a ler os teus poemas e
a chorar. Fazia um vento azulado e áspero e as mesas de
metal emitiam dolorosos sons ao longo da vazia esplanada.
Dos jardins queimados em Toledo não te direi nada. Ríamos.
Éramos um grupo estranho, talvez por um sopro azulado de
Nêsperas ter feito curvar os rostos até aos livros, numa
praia. Era o algarve, extenso, com a doce cal e os terraços
de choro nocturno, com o céu claríssimo do sul sacrificando
o que nos era possível criar, escrever, amar. Regressei
a portimão quando as flores de pesca se alongavam
pela margem. Alguém me escrevera de um café em Lagos
e eu conhecia mesmo vários poetas em badajoz, onde me
lembro de hemingway indo às touradas. Escrevo-te
pois, de um snack-bar, em pleno setembro, com um
rosto lindíssimo afundado numas nuvens, e destilando
o seu cinzento choro, com a guerra civil cantando
à minha volta os hinos roucos das ruas, suaves como
casacos de montanha, com a sua maquillage
de sangue e de crianças. Tudo são preparativos para uma
expedição que desconheço, mas lentamente em mim
apercebo-me de que também eu irei nela e verei os
aviões sobrevoando os vestidos escuros das mulheres,
onde os lábios desmanchados compõem ao som das
fogueiras nocturnas e nos vasos áticos do repouso,
as amadas flores de sal, os beijos ardentes que receberão
os poetas presos no Bósforo.
 
 
 
rui diniz
ossuário
(ou: a vida de james whistler)
& etc
1977



 

30 maio 2023

luís miguel nava / os nervos

 



 
Começaram-se-lhe os nervos, um dia, a reproduzir com uma violência inusitada, abrindo-lhe por fim a pele, por fora da qual, como a hera nas paredes, rapidamente se espalharam, sobrepondo-se aqui e acolá à própria roupa, com que deixou de poder dissimular o acontecido. Não havia, além disso, peça de vestuário que, depois de a ter vestido há algumas horas, o seu espírito já quase não houvesse totalmente devorado. O mesmo sucedia com os óculos. À nudez que o espírito lhe impunha, vinha-se juntar assim uma espécie de cegueira, entre as quais não tardou a haver quem encontrasse afinidades.
 
 
 
luís miguel nava
o céu sob as entranhas
poesia
assírio & alvim
2020




29 maio 2023

rui costa / a selva é redonda

 



 

Os macacos comem bananas porque
era a fruta que tinham mais à mão.
Se tivessem mais à mão morangos, os
macacos comeriam na mesma bananas,
porque os morangos são muito difíceis de
descascar. As bananas são comidas por
macacos porque são os animais com mais
mãos que têm ali à mão. As bananas não
têm mãos mas têm casca, que é uma espécie
de mão à volta da banana. As bananas prefe-
riam ter mãos mas saiu-lhes antes casca.
Ser casca não deve ser fácil, passar a vida
a ser deitado fora. Os árbitros de futebol
têm duas mãos, uma para cada cartão.
Os macacos também arbitram as bananas,
Comendo-as. Os macacos não mostram
os cartões às esposas. Preferem seduzi-las
usando da inteligência. Não sei como vim
parar à selva. Talvez tenha corrido demais
atrás da bola.
 
 
rui costa
«se uma estrela me falha, agarro numas nuvens»
mike tyson para principiantes
antologia poética
assírio & alvim
2017
 


28 maio 2023

pedro homem de mello / o rapaz da camisola verde

 
 
É com histórias que se conta a vida
E a minha história é breve de contar.
Mas a palavra bela e proibida
Tem da noite os silêncios e o luar…
 
Podia eu vir, a meio do caminho,
Juntar-me à Cruz, cantando para erguê-la.
Mas o segredo, amigos, é meu vinho
E minha estrela.
 
Podia, com os braços, destruir
A trajectória deste coração.
Mas sou de Alcácer Quibir
De El-Rei Dom Sebastião.
 
E assim, como em manhã de nevoeiro
– Manhã de Outono quando não de Abril –
Aqui vos deixo, oculto mas inteiro,
O meu perfil…
 
 
pedro homem de mello
o rapaz da camisola verde (1954)
poesias escolhidas
imprensa nacional-casa da moeda
1983




27 maio 2023

rui lage / brasserie

 



 

Remexia cerveja, recordava vinho
E lâminas de claridade retinta
Feriam-me nesta inércia de linho
Quando ela entrou, drapeando a cinta
 
A flamenga… tudo o mais era moldura:
Um baixo-relevo de óleo estático
E a luz da lamparina cozedura
De sombra, de ar, de lume dramático.
 
Eu só aplaudia o seu desfile rosado
Como um papel-de-parede ruidoso
(E nos seus cabelos sentia-me usado)
 
Como se lágrimas, palavras jorrando
Na suspensão de ela ser me sentasse
E já desde o fim do olhar me olhasse.
 
                                     
                                               Bruxelas
 
 
 
rui lage
antigo e primeiro
quasi
2002
 



26 maio 2023

vasco graça moura / mão

 



 

como a palma da mão
aberta e livre
com cinco dedos lisos     escorridos
é tépida e saudável
 
na sombra dum recanto se desenha
incólume diurna
ou franca e disponível
avança e auxilia
 
com pequenas nervuras     leves sulcos
levemente tensa     levemente côncava
moldada para molde
 
é tímida e segura
mesmo pobre
 
 
 
vasco graça moura
modo mudando
poesia 1963/1995
quetzal editores
2007
 


25 maio 2023

manuel antónio pina / calo-me

 



 

Calo-me quando escrevo
e assim as palavras falam mais alto e mais baixo
Nada no poema é impossível e tudo é possível
Mas não arranjo maneira de entrar no poema
e de sair de mim e por isso a minha voz é profunda e rouca
e por isso me calo (e como me calarei?)
No entanto ninguém é tão falador como eu
Nem há palavras que não cheguem para não dizer nada
 
E vós também: não me faleis de nada, ou falai-me.
Porque não sabeis o que dizeis.
 
 
 
manuel antónio pina
ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde (1969)
algo parecido com isto, da mesma substância
poesia reunida 1974-1992
afrontamento
1992
 



24 maio 2023

eugénio de andrade / as mãos e os frutos

 



 

V

Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes.
 
 
eugénio de andrade
as mãos e os frutos
poesia
fundação eugénio de andrade
2000





23 maio 2023

federico garcia lorca / encruzilhada

 




 
Vento do Leste,
uma lanterna
e o punhal
no coração.
A rua
tem um tremor
de corda
em tensão,
um tremor
de enorme moscardo.
Por toda a parte
eu
vejo o punhal
no coração.
 
 
 
federico garcia lorca
poemas
trad. de eugénio de andrade
assírio & alvim
2013
 



22 maio 2023

walt whitman / canto de mim mesmo

 




I
 
Celebro-me e canto-me,
E aquilo que assumo tu deves assumir,
Pois cada átomo que a mim pertence a ti pertence também.
 
Vagueio e convido a minha alma,
À vontade vagueio e inclino-me a observar a erva do Verão.
A minha língua, cada átomo do meu sangue, composto deste solo, deste ar,
Aqui nascido de pais aqui nascido de outros pais aqui nascidos, e dos seus
           pais também,
Eu, aos trinta e sete anos, de perfeita saúde começo,
Esperando que só a morte me faça parar.
 
Suspensos os credos e as escolas,
Retiro-me por certo tempo, deles saturado mas não esquecido,
Sou o porto do bem e do mal, e seja como for falo,
Natureza sem obstáculos com a sua energia original.
 
 
 
walt whitman
canto de mim mesmo
trad. de José agostinho baptista
assírio & alvim
1999



21 maio 2023

samuel beckett / sânie II

 
 
Havia uma terra de felicidade
o American Bar
na Rue Muffetard
havia lá ovos vermelhos
tenho um sujo quero dizer hemorróidas
regressando do banho
o vapor o deleite o refresco de sumo de frutas
a pena do velho corpo
magrizela, indolente feliz
à larga no meu velho fato
navegando indolente até Puvis a dupla fileira
                                                 [de tulipas
açoitem-me açoitem-me com tulipas amarelas
baixarei as minhas velhas calças
o meu amor coseu as algibeiras vivas vivas olé
                  [pois fê-lo dizendo que era melhor
e então imaculado deslizando dentro dos
                                       [farrapos castanhos
fresco e livre subindo o fiorde de ovos pintados
                                                        [e sinos
desapareço não sabias na taberna
as cavalas jogam bilhar gritam os pontos
a Barfrau produz grande impressão com o seu
                                            [enorme traseiro
estão lá Dante e a bem-aventurada Beatriz
antes da Vita Nuova
as bolas espadanam pouca sorte camarada
estão lá Gracieuse Belle-Belle pia abaixo
Percinet de botas com a sua queixada de
                                                        [cobalto
beijocam-se à lufa-lufa
sugar não é sugar que altere
lo Alighieri retira-se ao revoir a isso tudo
não consigo reprimir um risinho de despeito
escuta
silêncio terrível no salão
um frémito convulsiona Madame de la Motte
percorre sonoro as suas carnes
o grande traseiro silencia-se em espuma
depressa depressa as bengalas de cipó de
              [cavalete para o desconexo palavrório
vivas puellas mortui incurrrrrsant boves
oh súbito súbito antes que ela se recomponha
               [a golilha de bambu para a bastonada
uma fessade à la mode de lua amarga
oh Becky poupa-me não te fiz nenhum mal
                                          [poupa-me maldita
poupa-me boa Becky
manda às tuas víboras que parem Becky que
                          [eu te darei larga recompensa
Senhor tem misericórdia de
Cristo tem misericórdia de nós
 
Senhor tem misericórdia de nós
 
 
 
samuel beckett
poemas escolhidos
tradução de jorge rosa e armando da silva carvalho
dom quixote
1970

20 maio 2023

pablo neruda / acolhe-me no tear da tarde

 
 
Acolhe-me no tear da tarde,
quando o anoitecer vai urdindo
o seu vestuário e palpita no céu
uma estrela cheia de vento.
 
Traze-me a tua ausência até ao fundo,
pesadamente, com os olhos tapados,
atravessa-me a tua existência, admitindo
que este meu coração está destruído.
 
 
 
pablo neruda
antologia breve
tradução de fernando assis pacheco
dom quixote
1971




19 maio 2023

emanuel jorge botelho / poética iii

 



 
e há os poemas que ainda não escrevi,
os que são antes do papel,
os que estão prontos antes das palavras.
desses só há uma sombra
a dizê-los no silêncio,
uma espécie de rumor
que os põe dentro do tempo.
 
 
quando chegam,
já são de linho.
 
 
 
emanuel jorge botelho
nervo/18 maio / agosto 2023
colectivo de poesia
2023
 




18 maio 2023

saint-john perse / os sinos

 



 

 

     Velho homem de mãos nuas,
     reposto entre os homens, Crusoé!
     choravas, imagino, quando as torres da Abadia, como um
fluxo, derramavam o lamento dos sinos sobre a Cidade…
     Ó Despojado!
     Choravas ao pensares nos recifes sob a lua; nos silvos das praias mais distantes; nas músicas estranhas que nascem e sufocam a asa fechada da noite,
     semelhantes aos círculos encadeados que são as ondas de uma concha, à amplificação dos clamores sob o mar…
 
 
 
 
saint-john perse
habitarei o meu nome
antologia
tradução de joão moita
assírio & alvim
2016
 



17 maio 2023

albano martins / desta varanda, o mar



 
A saudade do cais não é de pedra,
é de água. Que o digam os olhos
dos que partem, dos que ficam…
 
*
 
La saudade del muelle no es de piedra:
es de agua. Que lo digan los ojos
de los que parten, de los que quedan.
 
 
 
albano martins
desta varanda, o mar
tradução para castelhano de
alfredo pérez alencart
edições simplesmente
2014
 



 

16 maio 2023

antónio josé forte / declaração

 


 

Eu de barba branca a tiracolo
rodeado de fumo por todos os lados vadios
menos pelo lado do mar
com um incêndio à ilharga
e dois artelhos clandestinos
eu salvo miraculosamente para te amar e curar
e esperar o teu regresso glacial e escarlate
que escrevo poemas desde que um rato
me entrou prós pulmões e só por causa disso
eu que disse: há um cancro no mapa universal
e engenheiros, geógrafos, doutores se apressaram a negá-lo
eu da cintura pra cima de alcatrão e terror
e do umbigo para baixo de quiosque chinês
eu não espero piedade obrigado
 
 
 
antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
2003




15 maio 2023

josé maria valverde / sensatez

 
 
             Porque, no amor, a loucura é o mais sensato.
                                                                              A.M.

 
 
É inútil que tu e eu prediquemos
sensatez aos meninos. Adivinham
que não vivem por nada sério, senão
porque o poeta, esse, ainda estudante,
enamorou-se por uma rapariga inerme
e rebelde perante o mundo, sem projectos,
deixando-se viver… E agora não somos
um bom exemplo; sem dúvida se nos nota
que aquele amor nos cresce de ano para ano,
e que se trabalhamos, bem formais,
é para defender a nossa paixão.
 
 
 
josé maria valverde
iluminação do eu
antologia de poesia hispano-americana
tradução de daniel ferreira
contracapa
2021




 

14 maio 2023

cristovam pavia / havia grandes tílias

 




 

Havia grandes tílias aromáticas…
E pedrinhas brilhantes, coloridas
Conforme a luz…
E havia animais
Com rotas desconhecidas…
E folhas estranhas todas diferentes…
 
No jardim passado, em tardes encantadas…
 
E tu estavas lá:
– Menino
Das pálpebras tombadas.
 
 
cristovam pavia
poesia
dom quixote
2010




13 maio 2023

adília lopes / desde as cozinhas na cave

 
 
Desde as cozinhas na cave onde
marroquinos preenchiam tacinhas escacadas
com um doce cor-de-laranja suspeita
até às retretes com as paredes cheias
suponho que de palavrões em várias línguas
tudo era muito cosmopolita a casa
para mim bastante duvidosa ou talvez fosse só eu
que andasse suspeitosa nunca o saberei
lá não hei-de voltar
jamais no meu quarto começou por estar
uma americana que se não se chamava
Daisy pouco lhe faltava
fingia que lia Rich Man, Poor Man
gritava de noite à janela Shut up!
porque realmente saía muita gente
sempre em grita e riso do passage
de que esqueci o nome onde havia poeirentos
vidros azuis translúcidos salitre osgas
depois apareceu-me uma Stefania
que se dizia ruiva veneziana
e viver na Via Cava Aurelia
nunca acreditei em Roma
fazia por tudo e por nada queixas
ao gordo guardador das chaves
que dormia de tronco nu debaixo
de um cobertor branco de pelúcia
dois ou três gatos geralmente pretos perto
(embora estivesse muito abafado o tempo)
lá não hei-de voltar
 
 
 
adilia lopes
dobra
poesia reunida
o decote da dama de espadas (1988)
assírio & alvim
2021




12 maio 2023

vincenzo cardarelli / harpejos

 



 
Vivíamos dum frémito de ar,
dum fio de luz,
dos mais vagos e fugazes
movimentos do tempo,
de auroras furtivas,
de amores nascentes,
de imprevistos olhares.
E para exprimir o que sentíamos
há só uma palavra:
desespero.
Doce infinita profunda palavra.
 
Vaga e triste é a sorte dos homens:
dos homens que passam
sem estrondo maior que o de uma folha
que se transforma em terra.
Precário estado o seu.
a morte, um dissolver-se,
não um acabar,
e sem tempo, sem memória,
a viagem terrestre.
O sol está cansado de observar
uma vida tão monótona.
Assim falava um monge
indolente e bizarro,
lá no antigo Oriente:
pequeno homem assediado
por enormes fantasmas.
 
 
 
vincenzo cardarelli
dez poetas italianos contemporâneos
trad. de albano martins
dom quixote
1992
 



11 maio 2023

concha garcía / um gesto útil

 
 
Nove em cada dez vezes
da pouca juventude que resta
meto-me no fundo, simulo
que o negro é uma luz
e no seu reflexo olho pontos mortos.
Uma mulher que escreve um verso
afunda-se na palavra, pisca os olhos
diante de uma cintilação pergunta-se
se tal como ela esquece
também os outros esquecem.
 
 
 
concha garcía
ayer y calles
poesia espanhola de agora vol. I
tradução de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997



10 maio 2023

rúben marques / reflexos

 
 
Não escrevemos poesia,
Escrevemos janelas interiores
Para acordar as verdades
Simples e óbvias,
Em nós
E em quem se julga sozinho.
 
 
 
rúben marques
quem somos quando ninguém nos vê
cordel d´prata
2023





09 maio 2023

jack gilbert / é óbvio porque é que os anjos não voltam

 
 
É óbvio porque é que os anjos não voltam.
Ali parados, majestosos, no seu belíssimo latim,
como podiam eles aceitar ser diluídos
tão diminutamente noutra gramática, ou abandonar
o seu canto perfeito por esta fala avariada?
Porque deveriam eles tropeçar por este mundo estranho?
 
Invejei sempre aos anjos a sua graça.
Mas larguei a minha esperança de tamanho bizantino
e cheguei a este embaraço, a esta estupidez.
Cheguei finalmente a ti e lavavas-me a cara
enquanto todos se riam, e encontrei uma floresta
abrindo-se enquanto o casamento corria em mim. Todas
 
as folhas no mundo teceram uma pequena
entoação: os anjos estão errados.
 
 
 
jack gilbert
deixem-me ser ambos
trad. leonor castro nunes e marcos pereira
destrauss
2020




08 maio 2023

robert frost / o caminho que não tomei

 



 
Dois caminhos, um para cada lado:
Ah, ir por ambos na mesma viagem!
Olhei para o primeiro ali, parado,
Nesse bosque de tom amarelado,
Até perder-se longe entre a folhagem.
 
Mas o outro também me atraía,
Por uma razão diferente, afinal:
Desbastar erva que densa crescia.
Quem por eles passara, todavia,
Os fora desgastando por igual.
 
E cada um nessa manhã jazia
Com a mesma cor, a mesma frescura.
Reservei o primeiro para outro dia!
Como um caminho a outro levaria,
Duvidei lá voltar noutra altura.
 
Daqui a mil anos, o que aconteceu,
Suspirando, estarei contando a ti:
Dois caminhos bifurcavam, e eu –
O menos pisado tomei como meu,
E a diferença está toda aí.
 
 
 
robert frost
antologia de poesia anglo-americana
de chaucer a dylan thomas
tradução antónio simões
campo das letras
2002