22 setembro 2005

posição política



Bananas

A banana tornou-se um fruto demasiado precioso para simbolizar esta república. O fungo da foleirice invadiu tudo. O país devia ser evacuado e desinfectado.

Já não serve de nada escolher entre um Soares e um Cavaco. O único protesto decente é abandonar o país aos seus ratos.




gil t. sousa








07 setembro 2005

quatro estações #crónicas de verão

Image hosted by Photobucket.com

Não quero perder o navio em Nova Orleans



Não quero perder o navio em Nova Orleans.
Não quero perder o navio.
Quero subir este vasto e fundo Mississipi
Que foi sonho da minha vida aventureira.
Quero subir o rio de margens baixas, verdes,
O rio lodoso que rasga um continente
Até ao coração desta cidade em perdição perdida.
Quero subir o rio depois de ter visto nos bars escuros
As mulheres nuas de Nova Orleans.
Quero subir o rio na barca antiga,
Igual à das estampas antigas.
Quero subir o rio que já não tem aventura
Para guardar na memória este pedaço de aventura.
Já não há troncos de árvore à deriva no rio,
Mas eu quero agarrar-me ao tronco de árvore
Que à deriva,
No rio,
Arrasta para o mar
Este sonho de fuga
E de abordagem
E de viagem
E de evasão
Para mundos distantes,
Para cidades exóticas,
Para mares insondáveis,
Para rios infindáveis,
— Este sonho de fuga
Que marcou, indelével,
No mapa da vida,
O meu destino.


Nova Orleans, 30 de Abril, 52.




Joaquim Paço d´Arcos
“Poezz”
Almedina 2004

02 setembro 2005

quatro estações #crónicas de verão

ESCATOLOGIA POÉTICA DOS ATROFIOS


1.


Uma questão menor
Nada de pessoal
Um acesso de furor --

Ausência
Falta

Tudo se destrói;
O círculo degenerou em espiral

Faltam ideias
Falta vontade

Respirar é um caos

Nada é verdade,
Só a sua falta.

E o comboio do ódio afasta-se em silêncio

E eu parado
Parado, atafulhado em cigarros
Cigarros e mais cigarros --

Paralisia infernal de desgosto e raiva e morte

(Arrependimento não?)

Lágrimas
Solitárias
Um telefone
Desligado
E mais cigarros

Mais dúvidas
Onde a esperança ainda vive
Falta rogar a Deus,
Só rogar a Deus.

Lá longe, o comboio do ódio rasga planícies cinzentas de indiferença e
morte.


j-