29 fevereiro 2024

joaquim manuel magalhães / era como estar só

 




 
 
Era como estar só. Mas
estar só e feliz.
A varanda envidraçada,
o cheiro do café, um ramo
chamado pelo sono.
Sombras de sol batiam
no chão de madeira velha.
Restos de água da noite
brilhavam nos vidros
os primeiros insectos.
A maresia das aves costeiras
lanceoladas de luz.
Os olhos pousavam à espera
de te voltar a ter.
 
 
 
joaquim manuel magalhães
de súbito
uma luz com um toldo vermelho
editorial presença
1990
 




28 fevereiro 2024

fernando pinto do amaral / escotomas

 
 
5.

Sempre que as sombras crescem, esta ferida
abre-se em mim – recordação
de um paraíso inabitável. Sonho,
mas cada sonho deixa atrás de si
a cicatriz de um beijo que adormece
nos meus lábios desertos.
 
Sempre que a lua acorda e espalha
o seu perfume azul neste jardim,
a luz de uma pergunta sobe, agonizante,
pela atmosfera pouco a pouco
mais fria, rarefeita. A minha sede
precisa desse voo,
dessa fé que renasce e procura
beber algum presságio nas estrelas,
florescer na penumbra, acreditar
na memória de Deus
sob o gelo dos olhos que flutuam
de céu em céu, de vida em vida, às vezes
tão perto de um oásis.
 
 
 
fernando pinto do amaral
poesia reunida 1990-2000
dom quixote
2000




27 fevereiro 2024

mário-henrique leiria / claridade dada pelo tempo

 




 
7
 
do meu braço
a mancha de sangue
corre incessantemente
 
comboio esperado há muito
sombra da noite
talvez o corvo
em que não acreditamos
 
em criança aprendi
a olhar a lua distante
mar ignorado da memória
– lâmina aguda e
extremamente fina –
 
a grande aranha do tempo
duas asas       sono que
nos foi dado outrora
 
 
                                   junho- 1950
 
 
 
mário-henrique leiria
obras completas
poesia
e-primatur
2018
 





26 fevereiro 2024

joão miguel fernandes jorge / a neve começa

 
 
A neve começa. O frio
torna o ar transparente.
Perigo
é uma carta que vem longe.
 
A terra traz os frutos.
 
Tu dirás que sou eu
eram meus olhos
nunca a neve foi silêncio
nem o frio
voo de ave.
 
Suspenso da atmosfera crepuscular
vem pela luz da madrugada
 
conheço os seus cabelos cortados em mármore
versos calmos e razoáveis tinham sido as palavras
reconheço os traços vigorosos do seu rosto
ao qual dirás que
 
nunca foram silêncio nem o frio voo de ave.
 
 
 
joão miguel fernandes jorge
à beira do mar de junho
relógio d´água
2019





25 fevereiro 2024

armando silva carvalho / o peso das fronteiras

 
 
 
Aqui me tens. E o texto.
Partículas. Partes sensíveis, pequenas
vísceras onde ocultam vermes;
uma poeira doce;
depois uma ferida.
 
Repara bem nas frases.
Na lenta fusão das letras sob o estômago.
Feriste-me. E as sílabas de um mar
há tanto, tanto tempo desejado,
vais ouvi-las mais tarde
quando discutes Marx, ofendes os amigos
ou passeias de mão dada com os poderes do tédio.
 
Insisto apenas para que me descubras.
Mais ou menos absorto. Virado de costas
ou simplesmente lendo
sem fome as páginas do tempo.
Nunca pesei muito.
Aliás, repara, quando os textos explodem
e se notam no ar as mil paciências
sobre a paciência;
quando a solidão se escama
como um peixe dúbio,
tudo se torna leve, final, tenso, coeso,
e tu podes ouvir, uivando,
um cão banhado em lágrimas.
 
Eu sou eu. Um cão dentro do túnel.
Já de patas desfeitas. Mais frio. Ao frio.
Roubando, entre os antigos, ossos
roendo, entre os modernos, mitos.
 
Os poetas começam onde acaba isto.
Este penso infectado que me pões nos olhos.
Um país termina. Logo nasce um outro.
E o território és tu.,
população, governo.
Amor administrativo; viva pátria
dos cínicos.
 
Vamos: sacode as armas quietas
da mentira.
Alarga as fronteiras
com teu riso sinistro.
 
Eu, mar, ligadura dobrada
sobre o sol do amor,
ardo na terra. Vou e venho.
E, além do mais, sou isto.
 
 
 
armando silva carvalho
o peso das fronteiras 1976
o que foi passado a limpo, obra poética
assírio & alvim
2007
 




24 fevereiro 2024

irene lisboa / sobre as palavras

 
 
 
SOBRE as palavras, sua importância e oportunidade, seu valor, bastas vezes me tenho detido.
 
No próprio acto de escrever (como as palavras, afinal, é que o permitem) esta reflexão de acode e me peia tanta vez: a linguagem antecede ou sucede o pensamento? que parte faz dele?
 
Nem a mim própria me pareça tola a minha pergunta!
 
A linguagem aflui-nos, ou vem-nos num certo encadeamento mental em que nos envolvemos, em que penetramos, como um surto natural, mais ou menos fácil, do espírito. (Lembremo-nos dos faladores solitários, faladores sem ouvintes.) E assim, sobre uma rápida, esporádica ou fugidia ideia, qualquer ideia ou sensação – tão difícil é desembaraçar estas daquelas! – as palavras entram num jogo de certa independência, mudas ou articuladas, ou até mesmo gesticuladas e vagas, sobrepondo-se à tal coisa (ideia ou sensação), perseguindo-a e fugindo-lhe e enredando-se nela… confundindo-se e dilatando-se à custa dela, a ponto de a afogarem, não poucas vezes… de a excederem!
 
É que as palavras têm espírito e vida por si próprias. O que tão bem se patenteia musical e sentimentalmente no verso. Um espírito que arrasta e sujeita os seus forçados manejadores, mau grado o desejo de supremacia e de domínio da parte destes.
 
Mercê das palavras usadas se salta de um para outro lado… Chegando nós a tornar-nos confusos e prolixos, pouco substanciosos, acorrentados àquele tal sortilégio.
 
Mas é amor o que as palavras em nós despertam! Um gosto de as seguir, de as explorar e até de as esperar pacientemente para que qualquer coisa interior, nossa, saia do seu limbo.
 
E não serão elas próprias que a criam, frequentemente?
 
 
 
irene lisboa
da estrela
solidão II
portugália editora
1966
 




23 fevereiro 2024

inger christensen / alfabeto

 




 

7
 
as guerras existem, as ruas, o esquecimento
 
e a erva e os pepinos e as cabras e o tojo,
o entusiasmo existe, as guerras existem;
 
os galhos existem, o vento que as levanta
existe e o desenho único dos galhos
 
da árvore chamada carvalho existe,
da árvore chamada freixo, bétula,
o cedro existe, o desenho repetido
 
existe, no saibro do caminho do jardim; existe
também o pranto, e o epilóbio e a Artemisa existem,
os reféns, os gansos, as crias dos gansos;
 
e as armas existem, um enigmático logradouro,
selvagem, ermo e decorado apenas com groselhas,
as armas existem; no meio do iluminado
gueto químico existem as armas
com a sua antiquada e pacífica precisão existem
 
as armas, e as mulheres lamentando, saciadas
como corujas gananciosas; a cena do crime existe;
a cena do crime, sonolento, normal e abstracto,
banhando numa luz caiada, abandonada,
este poema venenoso, branco, que se desintegra
 
 
 
inger christensen
alfabeto
trad. ricardo marques
não (edições)
2024
 



22 fevereiro 2024

luis antonio de villena / tractatus de amore

 
 
I
 
Não digas nunca: Eis aqui o amor.
O amor é sempre um passo mais,
o amor é o degrau seguinte da escada,
o amor é apetência contínua
e se não estás insatisfeito não há amor.
O amor é os frutos na mão,
ainda por morder.
O amor é um perpétuo aguilhão
e um desejo que deve crescer sem barreiras.
Não digas nunca: Eis aqui o amor.
O verdadeiro amor é um não chegou ainda…
 
 
 
luis antonio de villena
poesia espanhola de agora volume I
trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997
 



21 fevereiro 2024

maria velho da costa / desescrita





 

(Ao Afonso e ao Afonso)
 
 
Quando o disserem calo ou farta brotoeja
cardo sem gosto e arremedo velho
tão serôdio apoucar de outros mais hábeis
ou por tão burilada terem sua arte
ou por sofrentes mais no engenho dela,
hei-de guardá-lo meu por apara da gesta
que todos inventamos por modesta
ao pegar das palavras todas gastas
e pôr-me com mais força a ver da giesta
e do rumor das rugas dos que passam
que para isso estou,
bem mais que no contá-lo e dividi-lo.
Por isso não se afina entendimento lato
nem maestria mais ao escrito e trato:
são tantos os instantes a cuidar pla rama e rua
que só fica o que resta
fresta
cantata rota e rouca
entre o escrito e a estória.
 
 
 
maria velho da costa
desescrita
afrontamento
1972
 


 

20 fevereiro 2024

marguerite duras / paris, 25 de dezembro de 1994

 
 
 
A chuva das crianças caiu no sol.
Com a felicidade.
Fui ver.
Depois foi preciso explicar-lhes que era normal.
Há séculos.
Porque as crianças não compreendiam, não podiam ainda compreender a inteligência dos deuses.
Depois foi necessário continuar a caminhar na floresta.
E cantar com os adultos, os cães, os gatos.
 
 
marguerite duras
é tudo (c´est tout)
trad. joão costa
livros do brasil
1999




19 fevereiro 2024

leonor de almeida / entronização

 




 
Tenho o braço cansado,
A mão dorida, trôpega…
Mas uma espécie de ânsia sôfrega
Ordena:
           Empurrar tudo!
– Não quero, nem passado,
Nem presente,
Nem futuro! –
 
O braço faz de muro,
A mão abre caminho, coerente…
 
Quero uma estrada cá dentro… lisa, plana,
Para a tua palavra mágica, profética,
Bela e magnética,
Passear livremente,
E demoradamente!...
 
 
 
leonor de almeida
caminhos frios (1947)
antologia da novíssima poesia portuguesa
m. alberta menéres, e. m. de melo e castro
moraes editores
1971





18 fevereiro 2024

marta navarro; paola d´agostino / faço-me à minha semelhança

 



 
 
 
Faço-me à minha semelhança
trabalho diário e obsessivo
Requer um espelho duplo num bolso
e um corrector de entoações no outro
Faço-me à minha imagem
noite e dia e dias santos
Fecho para balanço em dias de água límpida
Requer arregaçar as calça enfiar os pés no rio e
pousar os ombros sobre os joelhos
brincar com os dedos dos pés e
aguardar o convite de Narciso
para dançar
 
 
 
 
marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014
 



17 fevereiro 2024

martín lópez-vega / para o tempo que virá

 
 
 
credite posteri
 
Horácio



 
Para o tempo que virá
burilamos a nossa pegada,
 
para o tempo que virá
e nos conhecerá através de um livro de imagens
no qual procurará as dos audazes,
as dos livres, a dos abnegados,
e nas fileiras de iguais acomodados
reparará apenas num estilo, num penteado,
um motivo de riso repetido
às custas de quem os seus afãs empenharam
em vãos méritos fugazes:
 
para o tempo que virá
a descobrir ruínas novas que revelarão
os nossos equívocos sobre o passado
e terá feito da nossa língua
uma geringonça deliciosa na qual falar
sobre coisas prodigiosas que nunca tivéramos sonhado,
 
para o tempo que virá e quererá saber
como nos amamos, o motivo do nosso sofrimento
e em que nos distinguimos do triste rebanho.
 
 
 
martín lópez-vega
a eterna qualquercoisa
tradução de jorge melícias
officium lectionis edições
2022




16 fevereiro 2024

sandra costa / manual da vida breve

 
9.

O tamanho das flores
prende-me ao chão
não serve de nada encontrar um lugar
onde possa ser outra coisa qualquer


sandra costa
manual da vida breve
poesia reunida 2003-2021

officium lectionis edições
2021




15 fevereiro 2024

miguel serras pereira / à tona do vazio

 
 
 
Não te leva nem traz a memória das horas
que voltam a morrer com o dia ao fim do dia
 
Por isso nunca te lembrei embora agora
de repente esta noite à tona do vazio
sejas tu afinal quem não está aqui
 
Pudesse assim morrer-se ou um dia morrer fosse
como sem ter de te lembrar não te esqueci
 
 
 
miguel serras pereira
á tona do vazio & reprise
cinquenta anos de poesia de miguel serras pereira 1969-2019
todo o ano 1990
barricada de livros
2022




 

14 fevereiro 2024

fátima maldonado / signo dos peixes

 
 
5

A tua ausência é na minha vida
o buraco na ponte onde pensava
apenas oscilando
transitar a velhice.
Posso, por ele debruçando-me, sentir o precipício
o rochoso recorte das grutas esverdeadas
o contacto da pedra na aresta do crânio
poroso no engaste que liga as duas têmporas,
aberta melancia partida na talhada
renda velha que esgarça na toalha de altar.
A luz que banha a rocha espraia
reflexo rápido que nos cruza a pupila,
o mesmo projector que varre uma prisão,
a espada que se enterra no cachaço do touro
deixando um pré-aviso
que cintila no ar como um cristal de neve
destruindo a sóbria anatomia de nervos e sistemas,
a estrutura da folha que existe sepultada
por baixo de uma pele, seja de boi ou lama,
a concha que repete os dois ou três modelos
que existem renovando-se.
E mesmo assim prossigo
rasando a perspectiva,
gangrenam-se-me os pés,
partindo-se aos bocados
ouço bater os ossos
na crista dos rochedos.
O cérebro envolvido por folha rendilhada,
guardado no abrigo sangrento do herbário,
rolando por montes e por fragas
deixa-me pensamentos espalhados como amoras.
Suspensos nos espinhos das sebes poeirentas
ficam os raciocínios à espera que os pardais
caindo de repente em bandos destemidos
lhes venham debicar ideias comatosas
secando já nas bagas da sua exactidão.
Nos bicos acerados resta o mercúrio das gotas
da lógica que escorre em fios de ovos metálicos
sobrando dos conventos que abrigam destroços
dos módulos lunares.
Sentada na areia
coalhada de limalha
como os restos caídos da bigorna
que o ferreiro afasta para o lado
sinto o desejo amargo de te contar o sonho
em que a comida gelando no meu prato
me afasta da ideia que possa saciar-me.
 
 
 
fátima maldonado
sem rasto
signo dos peixes
averno
2021




 

13 fevereiro 2024

ernesto sampaio / perda




 
No poroso branco das lajes
da limpa escada de pedra
sobre o abismo feliz
das claridades eternas
cada passo
perde
lentamente
a esperança de ser o último
 
A obra sem peso
da minha paciência
corre sobre a terra
constrói o silêncio
onde tu te anuncias
 
No reflexo das horas
como uma imagem de vidro
onde só vejo
a luz do vento
eu sei que a cor do mundo
está perdida
 
 
 
ernesto sampaio
feriados nacionais
fenda
1999







 

12 fevereiro 2024

al berto / se um dia a juventude voltasse





 
se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida
 
sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possuiu e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor
 
depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo
 
mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição
 
 
al berto
o último coração do sonho
editora quasi
2000
 




 

11 fevereiro 2024

albano martins / espelho

 
 
Há um momento em que o espelho
recusa a imagem. Percebes,
então, que o vazio
é contrário à luz. que o nada
e o salitre são
a outra face da transparência.
 
 
 
albano martins
escrito a vermelho
campo das letras
1999
 





10 fevereiro 2024

björn hakanson / o futuro

 
 
Alguém, uma pessoa que conhecia,
estava preocupado com o futuro.
Dizia-me que costumava ter terríveis pesadelos
Com que sonhas? perguntei-lhe
Sonho que tudo continua como antes
e que o que se transforma
se transforma do modo como tinha podido prever
Não seria culpa tua nesse caso, respondi-lhe
Também essa resposta fazia parte do sonho, disse
Agora não há saída alguma
onde possa despertar
 
 
Rymd for ingenting, 1962



björn hahanson
o destino da árvore é
transformar-se em papel
antologia de poesia sueca
poemas vertidos para português por
amadeu baptista
contracapa
2021



 

09 fevereiro 2024

alejandra pizarnik / pequenos poemas em prosa





 

 
 
Fechou-se o sol, fechou-se o sentido do sol, iluminou-se o sentido de fechar.
 
 
*
 
Chega um dia em que a poesia se faz sem linguagem, dia em que se convocam os grandes e pequenos desejos disseminados nos versos, reunidos de súbito em dois olhos, os mesmos que tanto louvava na frenética ausência da página em branco.
 
 
*
 
Enamorada das palavras que criam noites pequenas no incriado do dia e seu vazio feroz.
 
 
 
alejandra pizarnik
antologia poética
trad. alberto augusto miranda
edit. o correio dos navios
2002
 




 

08 fevereiro 2024

ana hatherly / a minha vida é poética

 
 
 
A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.
 
O amor me acontece
Como as folhas às árvores,
E tão singularmente,
Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas
Ou estar nua…
 
 
 
ana hatherly
poesia
1958-1978
moraes editores
1980
 




07 fevereiro 2024

sebastião alba / como se o mar

 




 

Quero a morte sem um defeito.
Sem planos brancos.
Sem que pequeninas luzes se apaguem
dentro dos ruídos.
Também a não quero providencial,
com um anjo vingador e secretíssimo
enfim pousado.
Nenhuma mitologia. Nenhuma
fruição poética. Assim: Como se o mar
me aspirasse os ouvidos… etc.
Mas súbita e civil,
com repartições abertas,
comércio, a luz graduada
nas altas paredes
dum bom dia sonoro.
 
 
 
sebastião alba
o ritmo do presságio
edições 70
1981