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as guerras existem, as ruas, o esquecimento
e a erva e os pepinos e as cabras e o tojo,
o entusiasmo existe, as guerras existem;
os galhos existem, o vento que as levanta
existe e o desenho único dos galhos
da árvore chamada carvalho existe,
da árvore chamada freixo, bétula,
o cedro existe, o desenho repetido
existe, no saibro do caminho do jardim; existe
também o pranto, e o epilóbio e a Artemisa existem,
os reféns, os gansos, as crias dos gansos;
e as armas existem, um enigmático logradouro,
selvagem, ermo e decorado apenas com groselhas,
as armas existem; no meio do iluminado
gueto químico existem as armas
com a sua antiquada e pacífica precisão existem
as armas, e as mulheres lamentando, saciadas
como corujas gananciosas; a cena do crime existe;
a cena do crime, sonolento, normal e abstracto,
banhando numa luz caiada, abandonada,
este poema venenoso, branco, que se desintegra
inger christensen
alfabeto
trad. ricardo marques
não (edições)
2024