31 outubro 2016

juan-eduardo cirlot / as chaves



As chaves
Desfazem-se quando chegam as ruínas.

O céu quebra as grandes ramagens dos ventos imóveis,
                rói os mosteiros das ervas que sangram.



juan-eduardo cirlot
antologia da poesia espanhola contemporânea
selecção e tradução de josé bento
assírio & alvim
1985





30 outubro 2016

bernardo soares / diário lúcido



A minha vida, tragédia caída sob a pateada dos anjos e de que só o primeiro acto se representou.

Amigos, nenhum. Só uns conhecidos que julgam que simpatizam comigo e teriam talvez pena se um comboio me passasse por cima e o enterro fosse em dia de chuva.

O prémio natural do meu afastamento da vida foi a incapacidade, que criei nos outros, de sentirem comigo. Em torno a mim há uma auréola de frieza, um halo de gelo que repele os outros. Ainda não consegui não sofrer com a minha solidão. Tão difícil é obter aquela distinção de espírito que permita ao isolamento ser um repouso sem angústia.

Nunca dei crédito à amizade que me mostraram, como o não teria dado ao amor, se mo houvessem mostrado, o que, aliás, seria impossível. Embora nunca tivesse ilusões a respeito daqueles que se diziam meus amigos, consegui sempre sofrer desilusões com eles — tão complexo e subtil é o meu destino de sofrer.

Nunca duvidei que todos me traíssem; e pasmei sempre quando me traíram. Quando chegava o que eu esperava, era sempre inesperado para mim.

Como nunca descobri em mim qualidades que atraíssem alguém, nunca pude acreditar que alguém se sentisse atraído por mim. A opinião seria de uma modéstia estulta, se factos sobre factos — aqueles inesperados factos que eu esperava — a não viessem confirmar sempre.

Nem posso conceber que me estimem por compaixão, porque, embora fisicamente desajeitado e inaceitável, não tenho aquele grau de amarfanhamento orgânico com que entre na órbita da compaixão alheia, nem mesmo aquela simpatia que a atrai quando ela não seja patentemente merecida; e para o que em mim merece piedade, não a pode haver, porque nunca há piedade para os aleijados do espírito. De modo que caí naquele centro de gravidade do desdém alheio, em que não me inclino para a simpatia de ninguém.

Toda a minha vida tem sido querer adaptar-me a isto sem lhe sentir demasiadamente a crueza e a abjecção.

É preciso certa coragem intelectual para um indivíduo reconhecer destemidamente que não passa de um farrapo humano, abono sobre-vivente, louco ainda fora das fronteiras da internabilidade; mas é preciso ainda mais coragem de espírito para, reconhecido isso, criar uma adaptação perfeita ao seu destino, aceitar sem revolta, sem resignação, sem gesto algum, ou esboço de gesto, a maldição orgânica que a Natureza lhe impôs. Querer que não sofra com isso, é querer de mais, porque não cabe no humano o aceitar o mal, vendo-o bem, e chamar-lhe bem; e, aceitando-o como mal, não é possível não sofrer com ele.

Conceber-me de fora foi a minha desgraça — a desgraça para a minha felicidade. Vi-me como os outros me vêem, e passei a desprezar-me não tanto porque reconhecesse em mim uma tal ordem de qualidades que eu por elas merecesse desprezo, mas porque passei a ver-me como os outros me vêem e a sentir um desprezo qualquer que eles por mim sentem. Sofri a humilhação de me conhecer. Como este calvário não tem nobreza, nem ressurreição dias depois, eu não pude senão sofrer com o ignóbil disto.

Compreendi que era impossível a alguém amar-me, a não ser que lhe faltasse de todo o senso estético — e então eu o desprezaria por isso; e que mesmo simpatizar comigo não podia passar de um capricho da indiferença alheia.

Ver claro em nós e em como os outros nos vêem! Ver esta verdade frente a frente! E no fim o grito de Cristo no calvário, quando viu, frente a frente, a sua verdade: Senhor, senhor, porque me abandonaste?

s.d.


fernando pessoa
livro do desassossego por bernardo soares. vol.I
ática
1982



29 outubro 2016

marcel proust / o nosso passado



Acho muito razoável a crença céltica de que as almas daqueles que perdemos estão cativas em algum ser inferior, num animal, num vegetal, numa coisa inanimada, efectivamente perdidas para nós até ao dia, que para muitos não chega nunca, em que acontece passarmos junto da árvore, ou entrar na posse do objecto que é a sua prisão. Então elas estremecem, chamam por nós e, mal as reconhecemos, quebra-se o encanto. Libertadas para nós, venceram a morte e tornam a viver connosco.

O mesmo acontece com o nosso passado. É trabalho baldado procurarmos evocá-lo, todos os esforços da nossa inteligência são inúteis. Ele está escondido, fora do seu domínio e do seu alcance, em algum objecto material (na sensação que esse objecto material nos daria) de que não suspeitamos. Depende do acaso encontrarmos esse objecto antes de morrermos, ou não encontrarmos.


marcel proust
em busca do tempo perdido
volume I do lado de swann
trad. pedro tamen
relógio d´água
2003



28 outubro 2016

tomé nazaré / estou no centro



Estou no centro, está escuro.
Todas as mãos estão a centímetros de me tocar, nunca tocando. Todos os olhos me vêem, nunca eu os vendo.
Não chega, o futuro.
Não sei se morro, se mato ou se o procuro.
A saída não... é demasiado simples. Não quero. Quero entrar.
Subitamente, sem morrer todo, procuro matar.



tomé nazaré




27 outubro 2016

fernando pinto do amaral / limiar



Queria roubar ao céu a luz do dia
e oferecer-ta agora, enquanto passam
as aves e o vento
arrasta um «rio de nuvens» infelizes
a caminho da noite. A primavera
põe um sorriso em cada verso, quando
floresce no meu sangue o mais divino
arrepio. Estou só,
mas sei que existe algures uma estrela
ainda por nascer.

De silêncio em silêncio
cintilam as imagens que deixaste
a arder sobre os meus olhos, cuja cinza
abraça este crepúsculo e regressa
ao coração. Entre a folhagem
palpita a voz do sol, estremece ainda
a pura melodia do seu fogo
quase em segredo
 – esse primeiro sonho de que é feita
a memória dos deuses no teu rosto.



fernando pinto do amaral
às cegas
relógio de água
1997



26 outubro 2016

joaquim manuel magalhães / agrafe



A carestia outonal levou-nos para a beira-rio
até uma cerveja sossegada. O bar
de pequena moral e pior comércio
cobria-nos com a sombra do repouso
da música furtiva. Os fósforos acesos,
os cigarros gastos, as mãos abandonadas
na frescura da mesa, os risos traziam
a viagem marítima do nada.

Em azinhagas perdidas eu quis um paiol.
Sem bairros partidários de betão burgesso
nem hetero-anónimos reacço-grafitadores.
Um vulcão de amigos farpados de motim.
Ao desabrigo, Pistola, nós e os outros gatos,
na bulha do silêncio, inimigos
da neurose urbana dos domingos,
do esterco costeiro dos fins de semana.

Pedras fulgentes de fogo impossível.
O voo tresandante dos anúncios ronca
na TV. A tormenta cerosa dos churrascos
acomete o saguão. Os vendedores
ruaceiros flutuam em municipais
abjecções. Nos andares, a prego e berbequim,
as famílias. A um nada chamamos
o desejo e nada resta para desejar.
A cabeça num lago de despejos, de ruínas.



joaquim manuel magalhães
intervalo e tentativa
consequência do lugar
relógio d´água
2001



25 outubro 2016

adonis / salmo



Levo comigo o meu abismo e ando. Reduzo a nada os caminhos que chegam ao fim, abro os caminhos longos como o ar, como a poeira, fazendo nascer inimigos dos meus passos, inimigos à minha medida. O abismo é o meu travesseiro, as ruínas são os meus ascensores.

Na verdade, sou a morte.

As orações fúnebres são as minhas fórmulas. Apago e espero quem me apagará. Nenhum desvio no meu fumo e nos meus sortilégios. Assim vivo na memória do ar.

Descubro uma cadência e um timbre para a nossa época.

(época que se esfarela como a areia e se solda como o metal época de nuvens chamadas rebanhos, de placas de zinco chamadas cérebros, época de submissão e de miragens, de marionetes e de espantalhos, época do instante glutão, época de uma queda sem fundo).

Não tenho artéria para esta época. Sou disperso e nada se parece comigo.

Crio uma ardência semelhante ao estertor do leviatã.

Vivo secretamente no seio de um sol por vir. Protejo-me com a infância da noite, abandonando a cabeça nos joelhos da manhã. Fujo e escrevo os livros do êxodo. Nenhuma promessa me espera.

Sou profeta e semeador de dúvidas.

Amasso a levedura da queda. Deixo o passado ao seu declínio e fixo a minha escolha sobre mim próprio. Distendo a época e enrolo-a. Chamo-a ó gigante monstruoso, ó monstro gigante. E rio e choro.

Sou argumento contra a época.

Apago os rastos e as manchas do meu ser interior. Lavo-o, limpo-o, deixo tudo em branco. Assim vivo no mais profundo de mim próprio.

As minhas veias alimentam-se de um derrame de sangue e não há lugar para mim entre os mortos. A vida é a minha vítima e não sei como morrer – o meu tempo está escondido, está sob os meus olhos. Ontem entrei no rito das ondas e a água era a minha chama.

Apresso-me porque a morte me persegue mobilizando os seus ventos entre os meus olhos. Rio com ela e choro no bater das minhas pestanas. Ah! Morte histriónica, morte carpideira!

Sei que estou no coração da morte, que me absorvo no túmulo, que bato contra as palavras. Mas vivo – outros que não eu sabem-no.

Ataco, desenraízo, passo, desafio. Aí onde passei caem as cataratas de um outro mundo. Aí onde passo está a morte, o beco sem saída.

Permanecerei assim – cercado por mim próprio.



adonis
arco-íris do instante
antologia poética
tradução de nuno júdice
dom quixote
2016





24 outubro 2016

ana hatherly / 463 tisanas



169

O que é digno e o que é indigno do homem pergunto enquanto caminho pelo corredor. Passo em frente duma janela e vejo a minha sombra projectada na parede. Então penso no logro mimético que representa a vassalidade à lei esse trânsito de acréscimo às reverberações de que se serve o crédito social para não abandonar as suas presas. Fim de citação.


ana hatherly
463 tisanas
quimera
2006



23 outubro 2016

al berto / filhos de rimbaud



IV

Um rasgão de luz sobre a pele, dormes na seiva doce das manhãs.
Mas sabes que só há repouso para o sofrimento
quando se entra no primeiro dia dos dias sem ninguém.

A dor, a perna amputada - a mapa da abissínia.

O sol enterra-se nas areias.

Viajo, sem me mexer desta enxerga branca.
Tento encontrar espaço para a lucidez do meu silêncio.
No lugar do poema coalha o ouro das geadas, e os animais
são formas etéreas que se me colam ao rosto.

O que morrer, quase não faz falta...

Dantes ouvia o mar... bastava encostar a cabeça ao peito um do outro.
Mas um homem em cujo coração esteja concentrada
toda a fúria de viver, será um homem feliz?

Não sei se posso querer alguma eternidade... não sei...
... o que vejo já não se pode cantar.

Que horas serão dentro do meu corpo?
Que mineral vermelho jorraria se golpeasse uma veia... não sei...
... o que vejo já não se pode cantar.

Lembro-me duma cabeça rebelde flutuando junto à janela.
Mas a casa está repleta de gemidos, vai amanhecer,
não me lembro de mais nada.

Recomeço a fuga, a última, e nela hei-de morrer de olhos abertos,
atento ao mínimo rumor, ao mais pequeno gesto -
atento à metamorfose do corpo que sempre recusou o aborrecimento.
O que vejo já não se pode cantar.
Caminho com os braços levantados, e com a ponta dos dedos
acendo o firmamento da alma.

Espero que o vento passe... escuro, lento -
então, entrarei nele, cintilante, leve... e desapareço.


al berto
filhos de rimbaud
revista ler
abril de 1997





22 outubro 2016

carlos edmundo de ory / suspeitando dos meus dedos



Cai rápido em minha alma
o desejo de morrer
de infundir calma
no meu espantoso ofício de escrever
para pôr em som o quanto calo
e a quem não responde perguntar
Com o sangue de Deus na crista
eu sei que sou um galo

Esta é a minha mão das palavras
Sua-me em português a mão
Já me sangra de golpear em vão
Meter alguém as cabras
no curral por ser humano
de uma só mão

Se fosse mudo gritaria
mudo de espanto
Já me não resta pranto
nesta mão  minha
E se quer alguém o meu ofício
de mutismo e grito
que me arranque pela raiz
Deus e a caneta que é o mesmo

Deixaram-me ferido
os cantos e os credos
Agonizo aqui limpo de pecado
muito amei e chorei demasiado
suspeitando dos meus dedos


carlos edmundo de ory
doze nós numa corda
poemas mudados para português
por herberto helder
assírio & alvim
1997





21 outubro 2016

andrea zanzotto / ervas e manes, invernos



Piedade para finitos e infinitos,
memórias
talvez distorcidas, retorcidas,
mas que em qualquer lugar, onde quer que seja,
por vós mesmas cresceis
e p’ los vossos intrínsecos olvidos,
ervas, ervas, Manes, tardes nossas..

Limalhas de irídio, estilhaçados quartzos
na obscuridade que o inverno instila,
agudas escarpas
tornadas vãs p’ la violeta,
mas que a vós sempre chegam
a ervas, ervas-Manes…

Frívolos Jovens Manes,
silvos talvez gelados,
gemidos de elfos
em suaves suplícios
poa pratensis, poa silvestris,
retraídos movimentos e
escasso predomínio de verde: eis
que já aqui se convocam incitando, incitando,
assim, a que em amplos obnubilados prados
consoleis a violeta,
consolação roubada à violeta.

Oh, além, p’ los desfiladeiros,
poa pratensis, Manes, poa silvestris,
à não mais inconsútil túnica
do mundo a céu aberto
providenciareis? Ttsch, sst, zzt
Salvareis?




andrea zanzotto
trad. luís pignatelli
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001


20 outubro 2016

arsenii tarkovskii / o espelho



V
Uma pessoa tem um corpo,
um só, sozinho,
a alma já está farta
de ficar confinada dentro de uma caixa,
com orelhas e olhos
do tamanho de moedas,
feita de pele – só cicatrizes –
cobrindo um esqueleto.
Pela córnea ela voa
para a cúpula do céu,
sobre um raio gélido,
até a uma rodopiante revoada de pássaros,
e ouve pelas paredes
da sua prisão viva
o crepitar de florestas e milharais,
o troar de sete mares.
Uma alma sem corpo é pecaminosa
como um corpo sem camisa:
nenhuma intenção, nem um verso.
Uma charada sem solução:
Quem vai voltar
ao salão do baile,
quando não ninguém para dançar?
E eu sonho com uma alma diferente
vestida com outras roupas:
que se inflama enquanto corre
da tristeza à esperança;
pura e sem sombra,
como fogo, ela percorre a Terra,
deixa lilases sobre a mesa
para que se lembrem dela.
Então continua a correr, criança, não
Te aflijas por causa da pobre Eurídice;
Continua a rodar o teu aro de cobre,
corre com ele mundo fora
enquanto, em notas firmes
de tom alegre e frio,
em resposta a cada passo que deres,
a Terra soar em teus ouvidos.



arsenii tarkovskii
o espelho
andrei tarkovsky
1975




19 outubro 2016

carlos de oliveira / desenho infantil



I

Os animais no alvorecer, os gritos reflectidos num plafond mais denso da neblina e devolvidos aos chiqueiros, sob a forma de raios que fulminam o gado, para subir de novo como gritos à bruma impermeável e tornar a descer: na madrugada, a aprendizagem da criança começa pela dor, que se desdobra sem descanso e a partir de si mesma.




carlos de oliveira
a leve têmpera do vento
antologia poética
quasi
2001




18 outubro 2016

amalia bautista / pecados capitais



Cada vez que tive vontade e pude
entreguei-me à gula e à luxúria.
Com a preguiça vivo amancebada.
Só fui seduzida pela avareza
como meio para outros desvios.
Sempre me mostrei irada e soberba,
orgulhosa, arbitrária e teimosa.
Talvez por isso não sentisse inveja.
Tão segura de mim, tão inflexível,
não podia invejar nada nem ninguém.
Hoje, contudo, derrotada e só,
sem esperança e vencida, tão inútil,
sinto inveja de mim quando me amavas.


amalia bautista
estou ausente
tradução de inês dias
averno
2013



17 outubro 2016

nuno júdice / o jogo



Eu, sabendo que te amo
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.



nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997




16 outubro 2016

alexander search / por isso, muito bem disse caeiro




Por isso, muito bem disse Caeiro

A Natureza é partes sem um todo.

O Universo, como conjunto, síntese e não soma das coisas, é uma ideia abstracta. Por isso não há Universo. Não é por não sabermos se não há; é por sabermos, por isso que ele é uma ideia abstracta, que não há.

O exemplo melhor das ideias abstractas e do para que servem são os números, a matemática. Nada mais útil, mas, em si, nada mais falso. Só um louco julga que o número 5, por exemplo, é uma coisa: mas o n.0 5 é útil, como os outros números, porque é um meio de compreender a realidade, não em si mesma, mas tem utilidade, em relação apenas a nós e à nossa imperfeição.

Se os nossos sentidos fossem perfeitos, não precisávamos de inteligência, as ideias abstractas de nada nos serviriam.

A imperfeição dos nossos sentidos faz com que não concordemos nunca em absoluto sobre um objecto ou um facto do exterior. Nas ideias abstractas concordamos em absoluto. Dois homens não vêem uma mesa da mesma maneira; mas ambos entendem a palavra «mesa» da mesma maneira. Só querendo visualizar uma mesa é que divergirão; isso, porém, não é a ideia abstracta da mesa.

s.d.


poemas completos de alberto caeiro
textos heterónimos
fernando pessoa
recolha, transcrição e notas de teresa sobral cunha
presença
1994