Acho muito razoável a crença céltica de que as
almas daqueles que perdemos estão cativas em algum ser inferior, num animal,
num vegetal, numa coisa inanimada, efectivamente perdidas para nós até ao dia,
que para muitos não chega nunca, em que acontece passarmos junto da árvore, ou
entrar na posse do objecto que é a sua prisão. Então elas estremecem, chamam
por nós e, mal as reconhecemos, quebra-se o encanto. Libertadas para nós,
venceram a morte e tornam a viver connosco.
O mesmo acontece com o nosso passado. É trabalho
baldado procurarmos evocá-lo, todos os esforços da nossa inteligência são
inúteis. Ele está escondido, fora do seu domínio e do seu alcance, em algum
objecto material (na sensação que esse objecto material nos daria) de que não
suspeitamos. Depende do acaso encontrarmos esse objecto antes de morrermos, ou não
encontrarmos.
marcel
proust
em busca do
tempo perdido
volume I do
lado de swann
trad. pedro tamen
relógio d´água
2003
1 comentário:
Olá.Como este espaço promove a criatividade, com as palavras deixo o meu blog para quem quiser conhecer ou seguir http://sugereme.blogspot.pt/ o meu muito obrigado pela vossa generosidade!
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