Por isso, muito bem disse Caeiro
A Natureza é partes sem um todo.
O Universo, como conjunto, síntese e não soma das
coisas, é uma ideia abstracta. Por isso não há Universo. Não é por não sabermos
se não há; é por sabermos, por isso que ele é uma ideia abstracta, que não há.
O exemplo melhor das ideias abstractas e do para
que servem são os números, a matemática. Nada mais útil, mas, em si, nada mais
falso. Só um louco julga que o número 5, por exemplo, é uma coisa: mas o n.0 5
é útil, como os outros números, porque é um meio de compreender a realidade,
não em si mesma, mas tem utilidade, em relação apenas a nós e à nossa
imperfeição.
Se os nossos sentidos fossem perfeitos, não
precisávamos de inteligência, as ideias abstractas de nada nos serviriam.
A imperfeição dos nossos sentidos faz com que não
concordemos nunca em absoluto sobre um objecto ou um facto do exterior. Nas
ideias abstractas concordamos em absoluto. Dois homens não vêem uma mesa da
mesma maneira; mas ambos entendem a palavra «mesa» da mesma maneira. Só
querendo visualizar uma mesa é que divergirão; isso, porém, não é a ideia
abstracta da mesa.
s.d.
poemas
completos de alberto caeiro
textos
heterónimos
fernando
pessoa
recolha, transcrição e notas de teresa sobral cunha
presença
1994
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