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18 fevereiro 2024

marta navarro; paola d´agostino / faço-me à minha semelhança

 



 
 
 
Faço-me à minha semelhança
trabalho diário e obsessivo
Requer um espelho duplo num bolso
e um corrector de entoações no outro
Faço-me à minha imagem
noite e dia e dias santos
Fecho para balanço em dias de água límpida
Requer arregaçar as calça enfiar os pés no rio e
pousar os ombros sobre os joelhos
brincar com os dedos dos pés e
aguardar o convite de Narciso
para dançar
 
 
 
 
marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014
 



29 julho 2022

marta navarro; paola d´agostino / medo, eu?

 
 
 
Medo, eu?
Sim, tive uma vez
 
 
Acabara de bater a meia-noite
eu voltava para casa
pela Rua do Jardim do Tabaco
e num dos armazéns uma sombra
a sombra alta e fléxil de um homem
tira a luva direita
e oferece-me a palma da mão
há pautas no lugar de linhas
 
 
que não seja um conto de fadas
que não seja um conto de fadas
que não seja um conto de fadas
 
 
reconheço a música
já a dancei antes
mas não quero enganar-me outra vez
 
 
 
marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014



 

12 agosto 2020

marta navarro; paola d´agostino / também dizem que o caminho de casa




Também dizem que o caminho de casa
se encontra por doçura
quando cai uma noite qualquer.
Estou aqui
com as chaves na mão
à espera de um sinal.



marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014











14 abril 2020

marta navarro; paola d´agostino / os verões hão-de durar de novo três meses




os verões hão-de durar de novo três meses
os lanches hão-de vir com desenhos animados
a morte há-de ser coisa do primeiro de novembro
as ruas hão-de ser nossas depois da escola
os joelhos hão-de ser tecidos de esfolar
as bicicletas hão-de deixar de precisar de descanso
mãe há-de querer dizer mãos de veludo
e como antigamente há-de ser um lugar vazio de novo



marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014






25 outubro 2019

marta navarro; paola d´agostino / minha melhor amiga era louca



Minha melhor amiga era louca
desequilibrada
de ter um pé excêntrico e outro clínico
largava brincos pela cidade como quem tem calor tira o lenço
do pescoço pendura-o nas costas da cadeira pede a conta
levanta-se
e vai-se embora
Escrevi muitas histórias à volta dos seus brincos
                                    à volta da sua cabeça meia perdida
como quem colhe o acaso
                           o selvagem
e o toma nas mãos como seu

Precisava dela
como uma palavra que brilha no escuro
à procura do impulso do dia
querendo que me ensinasse a arte
de bem se perder




marta navarro; paola d´agostino
dançam; dançam
edit. a tua mãe
2014