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16 fevereiro 2024

sandra costa / manual da vida breve

 
9.

O tamanho das flores
prende-me ao chão
não serve de nada encontrar um lugar
onde possa ser outra coisa qualquer


sandra costa
manual da vida breve
poesia reunida 2003-2021

officium lectionis edições
2021




09 março 2023

sandra costa / manual da vida breve

 
 
1.
 
Não sei o que é o tempo, o amor,
as decisões adiadas a esconderem-se
da última imagem que morre.
 
Quando se me acaba um poema
 
só procuro guardar a infância,
bocados de solidão, as magnólias
caindo a despedirem-se da
Primavera que chega.
 
 
 
sandra costa
manual da vida breve
poesia reunida 2003-2021
officium lectionis edições
2021
 



26 setembro 2022

ana paula inácio & sandra costa / menos uma hora nos açores

 



7.
 
Dobras a vida pelos vincos,
ajustas a dor ao buraco da agulha,
sabes de cor quantos ibuprofenos
são precisos para que te sintas
um hóspede na tua casa,
espelhos foscos em ruínas novas,
para tudo há uma solução:
 
o erro é só a forma mais bela
de dizer que nenhum deus escreve
por ti em linhas tortas.
 
 
 
ana paula inácio & sandra costa
menos uma hora nos açores
volta d´mar
2022





19 setembro 2022

sandra costa / luz de setembro



 
                                                          – se eu soubesse a palavra,
                                                          a única, a última,
                                                          e pudesse depois ficar em silêncio para sempre…
 
                                                          Vergílio Ferreira

 
 
 
A sequência é simples. Acrescento um dia a outro dia.
Os meses sucedem-se, as estações acontecem e,
sem que sejam necessários milagres, cai sobre mim
a luz de Setembro, essa sombra que sou.
Vem uma flor, depois outra flor e as árvores,
como as nuvens, ao abrigo dos silêncios que subsistem
em certos vocábulos, como ruína, hesitação, relâmpago,
melancolia, acendem-se e mudam de cor.
Algures, cortam os campos ao milho, seca-se e extrai-se
a eira da vagem do feijão, sobem-se as vindimas até ao desvão
do mosto e ainda no sismo da vertigem que é a infância
alguém descobre ou perde um templo feito de sol.
Dou um passo e mais um passo. Descalça, sempre
descalça, faça chuva ou esteja calor, que Setembro é
um mês de incertezas, para que me doam menos
os trilhos e as trevas dos desencontros e os mistérios
que poderiam ter ocorrido junto ao mar.
de verso em verso, saio porta fora, no rasto da última
luz de Setembro, essa sombra que sou, como se procurasse
a definitiva palavra de um poema de Vergílio Ferreira e
assim rompesse o lado mais impuro das candeias.
A sequência é simples. Acrescento amor às sombras
que ficarão para sempre.
 
 
 
sandra costa
manual da vida breve
poesia reunida 2003-2021
officium lectionis edições
2021