A tua cara era
do outro lado, na mesa do café,
escorrida qual um mármore
ao surgir da nascente.
Estavas intacto
e temi arranhar-te
sulcar-te na lisura
cegar-te na raiz.
Alguém há-de depois
fazer que compreendas
a razão dos soluços.
Alguém transformará
tua paisagem
num assolado campo mineral
onde Heathcliff movido
por ciúme
cortará entre dentes
seus tenazes rancores
o que se faz à pargana do trigo
e nos crava na língua
uma farpa movente.
Ao encontrar a pedra
entre o pé e a bota
pensará de certeza na veloz Catarina.
Outra irá decompor
em correntes de chuva,
um lustre suspenso
num olival de névoa,
a tua equilibrada junção maxilar.
A tua boca saberá
a incúria do amor apressado.
A testa há-de sofrer
a distorção do pânico,
a secreta mordida
que nos larga esvaídos,
as mãos tocando a pele
dos nossos próprios dedos.
Mas eu por mim recuso
tanta inocência junta.
os presságios
os encontros
editorial presença
1983