12 agosto 2024

fátima maldonado / meu pobre amante

 
 
 
Meu pobre amante
que te não fascina
mas se me falta
e se não o vejo
a saliva me seca
e me restringe a boca
e oculta na papila
o áfono cimento da recusa.
 
Se ao longe o lobrigo
e lhe sinto o desenho
e suspeito a boca
na cara se fixa
como se vela fosse num canto de sacada
ali logo me trunco
e me cindo em planos;
um só que continua
em direcção ao mar,
o outro que apodrece
 
e resta desprezado
e fica
coroa de tentáculos nas pedras recozidas
ao sol deste verão
entre portas abertas
e soleiras de escadas
circundadas por lousas
e azulejos vivos.
 
 
 
fátima maldonado
os presságios
os encontros
editorial presença
1983




 

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