(por muito encantador ou cruel) como o que o sentimento contém.
Não o que nos acontece na infância, mas o que estava
dentro do que aconteceu. Ken Kesey sentado nos bosques,
atrás da sua cerca de motas esbranquiçadas, disse que quando
escrevia em ácidos, não estava a escrever sobre isso.
Usava o que escrevia como clarões para encontrar o caminho de volta
ao que conhecia então. A poesia regista
sentimentos, prazeres e paixão, mas a melhor procura
o que está além do prazer, fora do processo.
Não tanto a paixão quanto aquilo para que pode o fervor
ser um caminho. A poesia pesca-nos para encontrar um mundo
peça por peça, como a fotografia interrompe o fluxo
para nos dar tempo de ver cada coisa separada e suficiente.
O poema escolhe parte do nosso inesgotável fluir em diante
para conhecer o seu mérito com atenção.
deixem-me ser ambos
trad. leonor castro nunes e marcos pereira
destrauss
2020