25 maio 2023

manuel antónio pina / calo-me

 



 

Calo-me quando escrevo
e assim as palavras falam mais alto e mais baixo
Nada no poema é impossível e tudo é possível
Mas não arranjo maneira de entrar no poema
e de sair de mim e por isso a minha voz é profunda e rouca
e por isso me calo (e como me calarei?)
No entanto ninguém é tão falador como eu
Nem há palavras que não cheguem para não dizer nada
 
E vós também: não me faleis de nada, ou falai-me.
Porque não sabeis o que dizeis.
 
 
 
manuel antónio pina
ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde (1969)
algo parecido com isto, da mesma substância
poesia reunida 1974-1992
afrontamento
1992
 



1 comentário:

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

São versos interessantes
Com pouca coordenação
Entre um a outro e são
Soltos ou quase saltantes
Por dispersos, dito antes,
Porém é bom repetir,
Pois, sem mensagem, o porvir
Cobrará definição
O que quer dizer, então
Versos só para os sentir...

Mas poesia é um bem
A um mundo embrutecido
Para poder dar sentido
À nossa alma cansada
De não poder sentir mais nada
Dada a aridez de toda gente
Sem fantasias. É premente
Que mude o rumo à jornada.

Parabéns por trazer-nos poesia e obrigado pela partilha. Abraço fraterno. Laerte.