Começaram-se-lhe os nervos, um dia, a reproduzir
com uma violência inusitada, abrindo-lhe por fim a pele, por fora da qual, como
a hera nas paredes, rapidamente se espalharam, sobrepondo-se aqui e acolá à
própria roupa, com que deixou de poder dissimular o acontecido. Não havia, além
disso, peça de vestuário que, depois de a ter vestido há algumas horas, o seu
espírito já quase não houvesse totalmente devorado. O mesmo sucedia com os
óculos. À nudez que o espírito lhe impunha, vinha-se juntar assim uma espécie
de cegueira, entre as quais não tardou a haver quem encontrasse afinidades.
luís miguel nava
o céu sob as entranhas
poesia
assírio & alvim
2020
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