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29 agosto 2024

vincenzo cardarelli / gaivotas

 
 
 
Não sei onde as gaivotas fazem ninho,
onde encontram a paz.
Sou com elas,
em perpétuo voo.
Raso a vida
como elas rasam a água
em busca de alimento.
E amo, talvez, como elas, o sossego,
o grande sossego marinho,
mas o meu destino é viver
faiscando na tempestade.
 
 
 
vincenzo cardarelli
dez poetas italianos contemporâneos
trad. de albano martins
dom quixote
1992
 



12 maio 2023

vincenzo cardarelli / harpejos

 



 
Vivíamos dum frémito de ar,
dum fio de luz,
dos mais vagos e fugazes
movimentos do tempo,
de auroras furtivas,
de amores nascentes,
de imprevistos olhares.
E para exprimir o que sentíamos
há só uma palavra:
desespero.
Doce infinita profunda palavra.
 
Vaga e triste é a sorte dos homens:
dos homens que passam
sem estrondo maior que o de uma folha
que se transforma em terra.
Precário estado o seu.
a morte, um dissolver-se,
não um acabar,
e sem tempo, sem memória,
a viagem terrestre.
O sol está cansado de observar
uma vida tão monótona.
Assim falava um monge
indolente e bizarro,
lá no antigo Oriente:
pequeno homem assediado
por enormes fantasmas.
 
 
 
vincenzo cardarelli
dez poetas italianos contemporâneos
trad. de albano martins
dom quixote
1992