13 setembro 2009
gil t. sousa / ainda que…
8/
ainda que nunca mais anoitecesse e no coração de um pensamento (de um pensamento súbito) cantasse um navio de areia
ainda que na corrente nada voltasse, nada soubesse voltar
gil t. sousa
falso lugar
2004
09 setembro 2009
josep maria llompart / amaram-se, souberam...
Amavam-se, sabei,
vicente aleixandre
Amaram-se; souberam
a urgência do sexo, como as veias
num momento se podem encher de água
salobra, de sol estival, de peixes
voadores.
Escondiam-se
na noite do pinhal ou pelos mornos
cantos de sombra.
Sentiam, fatigados,
o rumor da borrasca ou o longínquo
zumbir da cidade.
Ao acordar pela manhã ela acreditava
sentir no quarto um perfume de rosas,
e ele pensava o primeiro verso
de um poema que afinal nunca escreveu.
As bodas foram muito excitantes.
Têm um filho notário na península
e uma filha com noivo.
São gente a que chamam respeitável.
Regressam a casa ao fim da tarde, vagarosos,
saboreando, cansados, o crepúsculo.
Algumas vezes os olhos se lhes perdem,
com uma ponta de impaciência, entre os ramos
das árvores da rua, como se buscassem
um resto de vigor ou de carícia.
Olham os anos, o céu, as horas
secas,
o relógio e a poeira. Caminham. Calam.
josep maria llompart
(palma de mallorca, 1925)
quinze poetas catalães
trad. egito gonçalves
ed. limiar, porto
1994
08 setembro 2009
arsenii tarkovskii / o verão partiu
O Verão partiu
E nunca devia ter vindo.
Será quente o sol
Mas não pode ser só isto.
arsenii tarkovskii
8 ìcones
versão de paulo da costa domingos
assírio & alvim
1987
04 setembro 2009
agustina bessa-luís / saúde
Direi como disse um médico famoso: «O ser humano que matava com uma lança os leões treme hoje com a picada duma mosca.» Isto quer dizer alguma coisa de angustiante, e nós sabemos que a angústia nos mantém em cativeiro. O modo de vida urbano propagou-se à província, o homem levou as suas doenças até ao sertão mais impenetrável, e uma série de maldições pesa sobre a nossa saúde tornada delicada. O sabor do vinho tornou-se venenoso, o sol já não tem o mesmo efeito abrasador e doce na nossa pele; pomos o pé com precaução no solo, desinfectamo-nos antes de dormir e ao acordar.
agustina bessa-luís
dicionário imperfeito
guimarães editores
2008
01 setembro 2009
josé gomes ferreira / a uma nuvem e a todas as nuvens (1939)
(Li este poema ao Manuel Mendes que
mo pediu para publicar na «Seara Nova».)
O sol abriu em asas
um charco de água podre
e uma nuvem surgiu
no silêncio da tarde.
Mas quem se atreve a ver no céu
um pântano a voar?
Quem procura no coração dos anjos
o sangue do lodo?
Quem tem a coragem de gritar aos deuses:
«Vi-os subir dia terra!»?
Ninguém, ninguém...
Todos te contemplam
como se caísses doutro céu mais longe
para chover nas bocas sequiosas
a esperança do pântano esquecido.
E bradar nos vales das montanhas
a cólera do pântano revoltado.
E molhar até aos ossos
a febre dos mendigos
que desprezam os charcos
mas imploram de joelhos,
num latim de lágrimas,
a tua água atravessada de céu.
Ó homens que chorais
perdidos nos desertos
a abrir sulcos de cobra e vento nas areias
com lágrimas de sede.
Prendei, prendei nos astros
os gritos dos relâmpagos
que não cabem nas bocas
dos homens de joelhos.
Olhai, olhai nas nuvens
as águias orgulhosas
a agonizar silêncio
em olhos de humildade.
Tremei, tremei de medo,
a rezar de mãos-postas
às vossas próprias lágrimas de angústia
com asas de tempestade.
Tapai, cegai o sol
Com mãos de névoa e súplica
para que o mistério do sonho
seja maior do que o homem.
E nas noites misteriosas
com esqueletos de frio
enforcados no luar,
lançai às estrelas
as almas transidas
para aquecê-las
em nuvens de cinzas...
… de rojo no chão sem reparar
que, na terra onde caís
a magoar os joelhos numa prece,
crepita uma chama
funda e sombria...
A sarça ardente das coisas vis
que tudo cria…
A pobre fogueira a arder na lama
que nos aquece...
Enquanto de joelhos,
com os olhos a voarem do corpo,
todos procuram no fumo
a explicação do fogo.
Todos, menos eu!
Eu que nas tardes viris do mundo
só olho para o céu
quando o azul é mais profundo
sem ilusões de nuvens.
E se tenho sede
debruço-me no lodo
para beber com orgulho
a água imunda dos lameiros
que andou pelas estrelas
mas voltou à terra
com o sabor a sangue
de todos os astros.
josé gomes ferreira
poeta militante 1º vol.
moraes editores
1977
28 agosto 2009
william carlos williams / a chaminé amarela
Há um penacho
de fumo cor
de carne pálida no azul
do céu. Círculos
de prata
enlaçam espaçadamente
a estrutura amarela de
tijolos e refulgem
nesta luz
ambarina - não
do sol não do
pálido sol mas
do seu irmão
legítimo
o outono
william carlos williams
antologia breve
tradução josé agostinho baptista
assírio & alvim
1993
21 agosto 2009
carlos de oliveira / tempo variável
dança
I
Dançam na praia;
na orla onde se vai acumulando
uma primeira espuma;
de que surge a segunda;
que segrega, por sua vez,
o antídoto do mar;
usado sobre os rostos,
contra a acidez do sal, do lodo;
e esse trabalho atrasa mais
o movimento já difícil
de quem dança
desde o crepúsculo; talvez
possam chegar à madrugada;
mas não podem
refugiar-se noutra noite,
ao fim do túnel diurno:
II
as máscaras de espuma, fende-as a luz; e restitui
os rostos sem defesa
à erosão do mar;
alguns estudos sobre o vento
dizem que não regressará
tão cedo a esta praia;
incapaz de transpor a exalação
de fossas e algas; a muralha
que se prolonga, opaca,
às últimas camadas
onde é possível respirar;
e assim, faltando o vento, essência da leveza, cessa
a progressão aérea
que a dança subentende:
III
sente-se a lentidão, o peso,
minarem cada gesto; e antes
do gesto, a ideia de o fazer;
dançam agora dois a dois,
reconstituem a unidade
cindida ainda há pouco; os pares
mortais; a vocação
de transformar o tempo em rostos;
somam-se duas mortes,
e obtém-se uma criança; ela, sim;
resistirá, crescendo,
ao desgaste do dia,
procurará na outra noite
o corpo que define o seu;
protege-a a espuma, a máscara,
até de madrugada; e então,
IV
das duas uma: reproduz-se
também; ou extingue em si
o fluxo da dança;
não é a conjunção dos astros
que comanda tudo;
mas a cor do céu; indecifrável;
e outros, um halo de metal,
quase cinzento, em que repousam;
ou donde se desprendem;
certas cores intermédias;
de qualquer modo, a noite
dificulta os tons, subverte-os
sem se dar por isso;
V
e o silêncio; a máquina
que mói uma energia turva,
a clarifica pouco a pouco
destilando o dia;
tritura nestas engrenagens
simples hipóteses de som;
até a memória recolher
o círculo do sol; no último
momento; quando se dissolvem,
quase simultaneamente,
dança e memória: sob a curva
acesa do regresso ao ponto
onde começa o seu desenho;
chama-se tempo a muita coisa;
mas a duração da praia
é a mais incompreensível.
carlos de oliveira
entre duas memórias
cadernos de poesia
publicações dom quixote
1971
19 agosto 2009
cesare pavese / desenraizados
Chega de mar. Já vimos mar que chegue.
Ao entardecer, quando deslavada a água se estende
e esfuma no nada, o meu amigo olha-a fixamente
e eu fixo o meu amigo e nenhum de nós fala.
Chegada a noite, acabamos por nos fechar nos fundos duma taberna,
perdidos no meio do fumo, e bebemos. O meu amigo tem sonhos
(o bramir do mar torna os sonhos um tanto monótonos)
em que a água é apenas o espelho, entre uma ilha e outra,
que reflecte colinas salpicadas de flores selvagens e cascatas.
Quando bebe, dá-lhe para isso. De olhos postos no copo,
vê-se a erguer colinas verdejantes sobre a planura do mar.
As colinas, a mim agradam-me; e deixo-o falar do mar
porque a água é tão clara que se vêem mesmo as pedras do fundo.
Eu, o que vejo é só colinas, e enchem-me o céu e a terra
com as linhas nítidas dos seus perfis, distantes ou próximas.
Mas as minhas são agrestes, estriadas de vinhedos
que crescem penosamente num solo calcinado. O meu amigo aceita-as
e quer vesti-las de flores e frutos selvagens
para nelas descobrir, entre risos, raparigas mais nuas que os frutos.
Não é preciso: aos meus sonhos mais agrestes não falta um sorriso.
Se amanhã, cedinho, nos metermos ao caminho,
poderemos encontrar nessas colinas, no meio das vinhas,
uma rapariga de pele morena, tisnada pelo sol,
e, talvez, metendo conversa, comer-lhe algumas uvas.
cesare pavese
trabalhar cansa
trad.carlos leite
cotovia
1997
10 agosto 2009
gil t. sousa / o soar da última neve
7/
o soar
da última neve
aos pés
da rainha negra
retratos
são pedaços de abismo
ou restos
de chão firme
já não há mais nada
nem nos livros
nem nas horas
nem nas vozes
está tudo a arder
como se mais nenhuma paisagem
coubesse
na varanda dos meus olhos
gil t. sousa
falso lugar
2004
05 agosto 2009
herberto helder / e eu que sou louco…
e eu que sou louco, um pouco, não ao ponto de ser belo ou maravilhoso
ou assintáctico ou mágico, mas:
um pouco louco,
porque faço com mãos estilísticas um invento fora e dentro dos estados
naturais:e a faúlha e o ar à volta dela, jóia, digo, quero-a de repente,
e as matérias maduras e dramáticas: ouro, petróleo:
e com que potência madibular me debruço sobre o prato,
e ávido e inculto,
com mão aprendiz côlho o áspero alimento do mundo,
e rosto, membros, torso, radiações dos dedod,
trabalho no meu nome,
obra pequena de hemoglobina, enxôfre, células, osso, lume,
para estar mais perto de quem acaso me chame ou toque
---- eu,
sem beleza nem maravilha,
só dor,
desamor ou descuidada memória ----
mas mr conheça por isso que não é bem música,
talvez sim um som
dificílimo, sêco, acerbo, rouco, côncavo, precaríssimo
de apenas consoantes,
pregos
herberto helder
a faca não corta o fogo
ofício cantante
poesia completa
assírio & alvim
2009
04 agosto 2009
andre breton e paul éluard / tentativa de simulação da demência precoce
Quando era jovem, escondi Hércules na beira do meu fato de marinheiro, quando era velho restitui-lhe a liberdade ao fixar o seu resgate à minha pedra tumular em ricochetes. Ele ria por baixo da minha mordaça, um riso de hera. Mais tarde, como levasse avanço fiz germinar miríades de ovos de sapos provenientes de cruzamentos de caminhos com encruzilhadas de estrelas de cangurus no chapéu com gavetas de Napoleão da minha cómoda com pés de trevos sem folhas. Tenho como bisneta Cleo de Mérode, minha bisavó que viaja no dorso de lobo juntamente com Carlos, o Temerário. Ganhei um bilião de vezes a taluda à roleta jogando os nove meses do ano. Expulsaram-me em triunfo de todas as salas de esgrima porque queria apanhar o mel. Foi nesse dia que compreendi os sete mistérios da criação. Cleo de Mérode passava o seu tempo a querer calçar o pé da mesa com o mais claro dos meus rendimentos. Pus Cleo de Mérode na chancela do meu anel. Ela está tranquila, e desperta os mortos. Esterilizo todos os dados. O embrião mantém a sua aparência de chave inglesa, o ímpio já não se faz fanfarrão. Regulamentei a prisão por dívidas. É preciso mostrar carta branca para entrar e não subestimar os guardas. O tecto da prisão suporta as armaduras republicanas para os dias de gala. O reino dos inúteis terminou. Quiseram pôr-me uma barba falsa e fazer desempenhar o papel sepulcral de camareiro. Ameaçaram-me de me intrigarem com o rei de Agosto, mas eu rangi e disse-lhes quarenta e oito se não me largam a mão já não entrarei na caixa de moer para lhes fazer fogo.
Escrevi bem em bastardo na minha mala e fiz-mo registar pondo a cabeça de fora. Meteram-me no furgão dos leões, mas desde que me reconheceram já não tinham senão uma juba de margarida. Fiz puncionar mil leões durante o caminho no branco de muito que ficara livre. A seguir saltei do comboio que a si mesmo se atou. Tinha chegado.
Tirei o escalpe ao público. Pus a minha verdasca em todas as chaminés na noite de Natal.
Fui investido na confiança das pessoas ciumentas que me consultam para crimes passionais. Há razão para calafetar os sinos com as tranças das Francesas que não desbotam que já não têm senão o seu armário de espelho nas costas. Olho-me ali, ali me embalo e que se levanta? uma suspeita de piruetas desajeitadas nos joelhos de um velho senhor que satisfaz. Carreiras de lobas e cinzentos de chumbo, vi tudo. É preciso rir com os lobos.
Acredito na filatelia. Tenho as armas de Poitiers tatuadas no lado esquerdo do meu braço coberto por um xairel e as palavras pode-se prolongam artificialmente cada urna das pestanas da minha pálpebra superior enquanto que em cada uma das minhas faces se arredonda em rosa macabro a primeira letra de oui. A filatelia começou antes do homem, pelo início da época terciária. Os pterodáctilos saltam neste momento de uma margem para a outra do meu tinteiro. As imagens da boda não são obscenas: o padre devia trazer na sua casula um girino. As gomas enfoladas das serrilhas dos selos de correio cercam sempre com balões a nossa boa cidade. São precisos legumes frescos para os missionários, pois a antropofagia é contagiosa e dela só são suspeitos os selvagens. Um parricida em África arrancou um olho em forma de concha. As peças de jogo da carnificina são dez mil dedos ágeis.
Tenho um jazz no polegar alternando com um músico chinês que faz de unha. Estou enforcado num brinco de cerejas. Lancei todas as modas dos velhos tempos: a saia de esporas a arrasta-nascente, o globo com cruz na mão das crianças que chucham no polegar. Saboreei todas as iguanas que não se atreveram ainda a servir. Os dorminhocos não têm o mesmo cheiro das pessoas acordadas: se os despertam em sobressalto o cíclame espalha-se pelo quarto.
Tenho a mão de fathma nos Gémeos e um pé niquelado na Balança. A imensidade da minha natureza está compreendida entre duas picadas de vespas atreladas ao mesmo compasso que pede o biscato. Se é no lábio, existe beijo; se é nas nádegas, há Tibete.
Eu sou o avô, o pai, o sogro, o irmão, o cunhado, o tio, o genro, a nora, o primo, o padrinho e o cura do actual papa que não é mais do que um espião disfarçado, um amigo traidor ao serviço dos arquiduques de Tule. Não se poderá desmascará-lo senão mostrando à multidão a flecha do Parto cravada no seu ombro. Assim se unem os canalhas, os frutos adulterinos da criadagem e do colchão. Não temo senão ao ouvido a relojoaria dos Grandes Armazéns que construí amontoando 33000 raios de confeitaria sobre os tratados de paz. Um outro par de mangas sobre um outro par de ter razão sem estar lá, um outro par de mangas de outros braços sobre um outro par de mangas. Vai ter-se realmente em vista a manga do túnel sob a Mancha se os pinguins e os manetas são capazes de reconhecer o meu cérebro pelo grande Banhista do Bolo-Rei. É preciso servir-se do elevador para ir dos pés à cabeça pela imaginação mas, quando vejo as Repúblicas apresentarem-se à visita todas as semanas, lacro preciosamente o meu sangue depois de o ter posto em garrafas. O rapaz já não é tão sabedor acerca da sua sorte com as cadeiras nas quais se limita a sentar-se quilometricamente em relação a si mesmo sem marcar passo. Estou às cavalitas nos ombros de três raparigas que se dirigiam para ver melhor ao último andar da torre na qual me degolam enquanto desço o Niágara corno flutuador, em bola, em cana, em bola de som dos condenados que as jovens preferem e que libertam as jovens das armadilhas dos seus seios.
Nada darei às feras, matá-las-ei a golpes de adaga. Sou habitado de baixo para cima por urna matilha, o veado desce, põe-me no seu dorso de poltrona. O que vai escalar? O Sena desenrola-se, tenho a bobina, fio-a em fio de água por toda a parte. Tenho 21 000 vulcões em erupção. Faço fogo por todos os lados. Contudo desconfio dos 500 biliões de chamas que domo como cães. Estou em liberdade, o que me surpreende por parte da trovoada e da medicina dos simples. Escrevo aos notários a minha livre vontade em minha alma e consciência que jura perante o tribunal dizer toda a verdade ao insistir sobre as circunstâncias atenuantes e juro-o. Mas juro mandar o júri para os trabalhos forçados por me condenar a ser livre, laico e obrigatório. Não no mês de Julho mas no final e com carência em todos os duelos à lima e ao esquadro pelos meus superiores hierárquicos que se agarram as costelas em cada uma das minhas costelas. Nada fiz de mais que o mais e de menos que o mais e dei a liberdade a Deus que trazia urna gotilha de ouro que me entregou por estar livre e me conduzir pela mão nas pradarias com o botão de ouro.
Sob a palmatória dos corregedores que resmungam de viges os sumares de irdiana eu passo a tarde nos frascos sob o argério dos pimões. Salta por gluto. Constatei que o falecimento deseja trair numa gargalhada e submeter aos vivos a noite, esta seda rosa e branca do regresso da retardação das rasuras de ruptura. Riason ne hast gler. Comi à mesa de Fausto em crespins de machado e intimavam-se os convidados a passarem os olhos para azul para que o diabazulasse este passageiro azul que presidia com uma mão na minha mão, a outra nas suas rendas. E manchava-se até à medula. As brocas se rascacam umbeliferrantes com as ferraduras na manjedoura molhada e os fracosos engrenam os cadetesruivos. Eu quanto a mim eu abaixo-assinado eu me consequenco. Sentimentos com velas habituam-me ao apartamento para alugar com abrigo para o meu povo e o entendimento com cogumelos criqueta-me a erva preparando-se para a necessidade de arrancar a cabeça. E subir a um oleoto para tagarelar que ao Reno a Pátria reconhecida, ao Reno remorsos modernos e dos nossos Lorelei às apalpadelas ao baixar-se. Quando me ponho de capa dos pés a cabeça para ser a faia, o ante-nome, o contra-nome, o entre-nome e o Pártenon roga-me e eu digo não e canhão e disparo e o obus ricila e vai perder-se em mim e em mim e repercute em mim. Docemente a mirabonda e as fendas da galinha obstruem-se com darinça e arbila de Brioude no cotovelo o gafanhoto do cotovelo come o Inverno dos Heindes e dos Niobays de Soude. O frifro absorve-se pelo obo de eracmo. Bailarica-se nas pinças enquanto Aladino quiquiqui. Pedro é silogono em cachimbo de mucedro em ouro e em portanto, minhamuito e minhadernais. O andar de baixo é ocupado por Paris. O x exaspaltera o fogo de Seltz. Bataver e rolser em divisa de rabo de rato condecoram superviga o Onifonargelinglesa. Eu como para comoer de como é teu. Mas sim é da minha linhagem. Equivoqe jouh dir de ener o sistelo, as rubricas do teu saber se frisasasariam sem tardar. A açafanálise reduz as frubas de drona e posta doze quatro vezes oito. Maneira de aumentar o cieiro ceifar seis fica débito de exergo. Pego em onze e corto-os em onze fica onze que liassiprono de sam. Danret! Fina e funda que se climatoriza sem saber. Em beelza biribiada de léxicos negros que rondoce antes Que a Fronguarnição não Se adjective como Umdois que se adpalavra na língua e não na provisa, eu vos moeudo para mim que Marguesclin quem Dortapostrofa. E Quem heliotemposa os mercados das taças. Começamos por cada um nofoforo/lofoforo = Filho de Judas rondeva, que A Lineu pastor hipomito U vraili ouabi bencirog platol fernaca gla... lanço. U qualon purlo ouam gacirog olaiarna oual, u feaiva zuaïlo, gaci zulo Gaci zulo plef. U feaiva oradarfonsedarça nic olp figilê. U elaïaipí mouco drer hôdarca hualica-siptur. Oradar-gaçirog vraïlirn... u feaiva drer kurmaça ribag nic javli.
andre breton e paul éluard
as possessões
a imaculada concepção
tradução franco de sousa
estúdios cor
1972
27 julho 2009
fiama hasse pais brandão / estradas
1
Esta é a estrada
que me atravessa o tórax
com os seus marcos leves.
Vagarosa vida em terraplanagem,
vivo medo. Tem o cascalho,
o pó, o macadame negro
que nos esmaece. Vai cortar-nos
o som com que gritámos.
Abater a colina clara,
que percorríamos, amantes solitários.
Vai esquecer-se dos passos
de parentes e pássaros.
É a estrada que esventra.
Estivemos no começo
e no fim do seu tempo.
fiama hasse pais brandão
cenas vivas
relógio d'água
2000
21 julho 2009
jean-arthur rimbaud / depois do dilúvio
Mal se aquietou a ideia de Dilúvio,
Uma lebre parou entre os sanfenos e
nas ondulantes campânulas e fez a sua
prece ao arco-íris através da teia da
aranha.
Oh! as pedras preciosas que se escon-
diam — as flores que já olhavam.
Na grande rua suja reapareceram as
tendas, e as barcas foram atiradas ao mar,
que era em degraus, e em cima, como
nas gravuras.
Correu o sangue, nas terras de Barba-
-Azul. Nos matadouros, nos circos, onde
o selo de Deus enlividecia as janelas.
O sangue e o leite correram.
Os castores construíram. Os mazagrãs
fumegaram nos estaminés.
Na grande casa vidrada ainda rumo-
rejante as crianças de luto olharam as
maravilhosas imagens.
Uma porta bateu — e no centro do
povoado o menino girou os braços arre-
batando os cata-ventos e os galos de todos
os campanários, sob o cintilante agua-
ceiro.
A Senhora *** instituiu um piano nos
Alpes. A missa e as primeiras comunhões
foram confiadas aos cem mil altares
da catedral.
As caravanas partiram. E o Esplêndido
Hotel foi construído sobre o caos de gelos
e de noite dos pólos.
Desde então, a Lua ouviu o uivo dos
chacais nos desertos de timo — e as églo-
gas sabias grunhindo ao vergel. Depois,
na mata violeta, sussurrante, Eucaris
disse-me que era primavera.
Irrompe, charco — Espuma, rola sobre
a ponte e por cima das árvores. Velos
negros e órgãos; raios e trovão — vinde
e rolai! — Águas e tristezas, crescei e
restabelecei os Dilúvios.
Pois, desde que eles se foram — oh as
pedras preciosas aluindo, e as flores aber-
tas! — é o tédio! e a Rainha, a Feiticeira
que acende o seu lume na frágua de barro,
nunca quererá contar-nos o que sabe e
nós ignoramos.
jean-arthur rimbaud
iluminações
uma cerveja no inferno
trad. mário cesariny
estúdios cor
1972
Subscrever:
Mensagens (Atom)