E, através da ponte dos
sentidos, pouco a pouco a solidariedade. Um amigo, uma amiga, e o mundo
recomeça, retoma corpo a matéria informe. Uma linha recta passa através dos
peitos. Os homens reúnem-se de novo e o infeliz volta a prender-se aos seus
sorrisos, com um sorriso talvez um pouco menos amável que o dos tempos idos,
mas mais justo, melhor. Recuperou-se no imaginar o que poderiam ser os seus
irmãos se destruíssem a solidão em que viviam. Ouviu bramir o canto que se
elevava da multidão compacta. E não mais voltou a sentir vergonha.
Os que o amavam eram inúmeros. Iam beber às fontes,
trabalhavam contra o esforço que se perde na sombra. A dor fora sobrepujada, a
árvore saía da terra, os seus frutos iam amadurecer, todos seriam com eles
alimentados.
Que tinham então a ver com
isto os fabricantes da moral? Um homem fora restituído aos seus semelhantes, um
legítimo irmão.
paul éluard
poemas políticos
trad. carlos
grifo
editorial
presença
1971



