Sacudo a ligeira vertigem que me acode sempre que chego
Como um intruso que teme acordar a prata dos espelhos
e receia vê-la ondular, enrugar, nas pálpebras do fogo
paro, num fugaz pestanejo em que acendo um cigarro
e passo a ombreira para o visgo da solidão controlada.
Onde esqueci (em que desvão, em que lavabo?) o alforge de enganos?
Todos vamos na culpa, como diria o Ioannes. Todos.
O nosso minúsculo e secreto maquinismo de masoquismo
ritmava o ofegar do sádico menor em cada esquina de tédio
todos álvaro de campos com imenso dó de si próprio
todos ceguinhos do acordéon do fado automático
uns mais e outros um pouco menos gozando a música do látego
cada um adiando, cada qual consentindo, todos indo na culpa…
odes didácticas
uma meditação, 21 laurentinas e dois fabulários falhados, 1971
tinta da china
2021
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