Sempre que as sombras crescem, esta ferida
abre-se em mim – recordação
de um paraíso inabitável. Sonho,
mas cada sonho deixa atrás de si
a cicatriz de um beijo que adormece
nos meus lábios desertos.
o seu perfume azul neste jardim,
a luz de uma pergunta sobe, agonizante,
pela atmosfera pouco a pouco
mais fria, rarefeita. A minha sede
precisa desse voo,
dessa fé que renasce e procura
beber algum presságio nas estrelas,
florescer na penumbra, acreditar
na memória de Deus
sob o gelo dos olhos que flutuam
de céu em céu, de vida em vida, às vezes
tão perto de um oásis.
poesia reunida 1990-2000
dom quixote
2000