para Mário Cláudio
No seu peito colegial, coberto de rumorosos plátanos de verona,
abriguei os dedos, a caruma das estrelas,
brancas pombas.
A claridade do dia findara; o odor da terra húmida
entardecia coalhando o azul de uns olhos que vindimavam
o sangue, o irisado da alma:
chovia. Pelo curriculum do vento partimos, misturando o amargo linho
[dos segredos,
A verdade dos sorrisos.
Por furtivos pomares, inquietos canaviais,
o corpo escondemos, os relâmpagos,
mágoas de silêncio –, prudentíssimas labaredas.
Embora chovesse, e muito, o corpo imitava o sol, secava
a erva. Penumbras de sombra a cada passo setembro
mordia de luz, modulava a ternura, intensamente.
Pelos campos, entre o íntimo perfume das vozes, um arado de loucura,
uma lágrima de engenhar sulcos, sementes, folhas, gomos de água,
galhos de melancolia,
gerações de chuva, secretos tanques enredando a noite,
a literária morte: o labirinto fulgurante de um versátil estilo
de aprendizagem desmedida.
Seduzida, na mão
um ramo de chuva, um jardim
de macerados lábios
dedicados.
jorge velhote
colóquio letras nr. 90
março 1986
fundação calouste gulbenkian
1986