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E vós, Mares, que ledes nos mais vastos sonhos,
deixar-nos-eis uma noite sobre os rostros da cidade, entre a pedra pública e os
pâmpanos de bronze?
Mais larga, ó multidão, a nossa audiência nesta
vertente de uma idade sem declínio: o Mar, imenso e verde como uma alvorada a
oriente dos homens,
O Mar em festa nos seus degraus como uma ode de
pedra: vigília e festa nas nossas fronteiras, murmúrio e festa à altura de
homens – o próprio Mar nossa véspera, como uma promulgação divina…
O odor fúnebre da rosa não mais assediará as grades
do túmulo; não mais a hora viva das palmas calará a sua alma de estrangeiro…
Amargos, os nossos lábios de viventes alguma vez o foram?
Vi sorrir aos fogos do largo a grande coisa
feriada: o Mar em festa dos nossos sonhos, como uma Páscoa de erva verde e como
festa que se festeja,
Todo o Mar em festa dos confinas, sob a sua
falcoaria de nuvens brancas, como bens de domínio público ou terras de mão
morta, como província de erva louca e que foi jogada aos dados…
Inunda, ó brisa, o meu nascimento! E que o meu
favor se lance no circo de mais vastas pupilas!... as zagaias do Meio-Dia
vibram às portas do júbilo. Os tambores do nada cedem aos pífaros de luz. e por
toda a parte o Oceano, calcando aos pés o seu peso de rosas mortas,
Sobre os nossos terraços de cálcio ergue a cabeça
de Tretarca!
saint-john perse
antologia poética
amargos
tradução de carlos
cunha e alfredo margarido
guimarães editores
1961
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