20 novembro 2023

saint-john perse / amargos

 




 

 
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E vós, Mares, que ledes nos mais vastos sonhos, deixar-nos-eis uma noite sobre os rostros da cidade, entre a pedra pública e os pâmpanos de bronze?
 
Mais larga, ó multidão, a nossa audiência nesta vertente de uma idade sem declínio: o Mar, imenso e verde como uma alvorada a oriente dos homens,
 
O Mar em festa nos seus degraus como uma ode de pedra: vigília e festa nas nossas fronteiras, murmúrio e festa à altura de homens – o próprio Mar nossa véspera, como uma promulgação divina…
 
O odor fúnebre da rosa não mais assediará as grades do túmulo; não mais a hora viva das palmas calará a sua alma de estrangeiro… Amargos, os nossos lábios de viventes alguma vez o foram?
 
Vi sorrir aos fogos do largo a grande coisa feriada: o Mar em festa dos nossos sonhos, como uma Páscoa de erva verde e como festa que se festeja,
 
Todo o Mar em festa dos confinas, sob a sua falcoaria de nuvens brancas, como bens de domínio público ou terras de mão morta, como província de erva louca e que foi jogada aos dados…
 
Inunda, ó brisa, o meu nascimento! E que o meu favor se lance no circo de mais vastas pupilas!... as zagaias do Meio-Dia vibram às portas do júbilo. Os tambores do nada cedem aos pífaros de luz. e por toda a parte o Oceano, calcando aos pés o seu peso de rosas mortas,
 
Sobre os nossos terraços de cálcio ergue a cabeça de Tretarca!
 
 
 
saint-john perse
antologia poética
amargos
tradução de carlos cunha e alfredo margarido
guimarães editores
1961
 




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