há outros céus; que sobre as nuvens que vemos,
paradas, sobre nós, outras nuvens são empurradas
pelo universo, cheias como o espírito que
só imaginam aqueles que ouvem o silêncio das aves,
quando a noite cai. Há sonhos inúteis,
que se perdem ao longo da vida, que rolam
com o tédio para as sarjetas do esquecimento. Outros,
porém, ficam por dentro de nós; e repetem-se,
de cada vez que o dia ficou escuro mais cedo, ou
que olhamos à volta e descobrimos que não está connosco
quem gostaríamos que estivesse. Um remédio
para a solidão, talvez; embora o sonho possa ser,
por outro lado, a porta que se fecha quando
a realidade toma conta de nós. Então, é
possível que andemos, como os pobres, à sua procura
pelos caixotes de lixo da eternidade. Destapamo-los,
um a um, e remexemos por entre imagens antigas,
rostos que se desprendem da noite, palavras
que se ligam a súbitas entoações, comoventes,
da voz que o tempo levou. E as mãos voltam
vazias: nenhum sonho cabe na mão. Assim,
este céu continua a ser o meu limite; e só espero
que a chuva recomece para que a sua música monótona
me devolva o sonho de uma manhã azul.
a fonte da vida
quetzal
1997