O rio corria dolentemente, empurrando barcos preguiçosos para o mar.
Eram essas, as tardes infindáveis, a costa de marfim.
As sombras jaziam nas ruas, as vitrinas exibiam altivos manequins,
que me olhavam, com ar de desafio e ousadia.
como se Homero os tivesse derrotado, humilhado, morto.
Os vespertinos traziam notícias inquietantes,
mas nada mudava, ninguém se apressava.
Nas janelas não havia ninguém, tu própria não estavas lá,
até as freiras pareciam ter vergonha da sua vida.
e ficava sozinho com o demónio opaco da cidade
como um pobre viajante, de pé, em frente à Gare du Nord
com uma mala demasiado pesada, atada com uma corda,
sobre a qual caía a chuva, a chuva preta de Setembro.
que vê mas não trespassa; diz-me como me curar
de estar calado.
sombras de sombras
trad. marco bruno
tinta-da-china
2017
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