Entre o meu corpo e a roupa que o reveste há uma
distância enorme. Dir-se-ia que a roupa está nas insondáveis profundezas dum abismo
em torno de cuja protecção os meus órgãos se expusessem aos caprichos do céu. Bloqueiam-me
as vértebras palavras de cujo sentido o próprio sol precisa para brilhar. Sai-me
do corpo o tempo num só vómito, o que torna transparente todos os meus órgãos. A
roupa é uma incógnita, esmagada assim entre a esperança e as torrentes.
luís miguel nava
o céu sob as entranhas
poesia
assírio & alvim
2020
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