Perto do princípio da sua primeira viagem
O grande viajante (que havia de sofrer
Naufrágio, a perda de todos os bens, dos escravos
– De quem tanto gostava – e do filho; que havia
De enfrentar piratas, salteadores, ser gasalhado
Por príncipes como um igual e ser alvo de escárnio
Como um pedinte; que havia de ver o conhecido
Mundo e suas maravilhas) perto do princípio
Da sua primeira viagem diz-nos ele como,
Companheiro duma caravana de viandantes,
Chegou a uma cidade e como a multidão
De gentes amigas e de parentes saiu dela
A dar-lhes as boas vindas, cada homem saudado
Por um rosto que conhecia, à excepção dele,
Ibn Battuta, a ele ninguém o saudava
Visto que lá ele era um estrangeiro, e como
Chorou.
Quando se fecha o
livro este retrato
De um homem com cerca de vinte anos a chorar
– E não os príncipes, os escravos e os naufrágios –
É o que fica comigo
quase que sentes
Através dos séculos a compressão dos
Teus dedos de encontro ao seu braço e escutas
A tua voz erguer-se para saudá-lo.
dick davis
trinta e dois poemas
trad. joaquim manuel magalhães
as escadas não têm degraus – 2
livros cotovia
1990