19 maio 2022

al berto / doze moradas de silêncio

 
1
 
penso na morte
mas sei que continuarei vivo no epicentro das flores
no abdómen ensanguentado doutros-corpos-meus
na concha húmida de tua boca em cima dos números mágicos
anunciando o ciclo das águas e o estado do tempo
 
a memória dos dias resiste no olhar dum retrato
continuo só
e sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola
 
é imprevista a meteorologia das paixões
pássaros minerais afastam-se suspensos
vislumbro um coro de chuva cintilando na areia
 
até que tudo se perde na sombra da noite… além
junto à salgada pele de longínquos ventos



al berto
doze moradas de silêncio 1978/1979
o medo
assírio & alvim
1997




 

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