Na Cervejaria
um senhor de óculos sem culpa
cabeleira densa e culpada de ir
até às sobrancelhas ligadas
e principais culpadas
da sua estúpida presença
Cara de carnes caídas
a fazerem-no menos novo
do que um queixo entre enérgico e ovo
denuncia
Na Cervejaria
dizia
um senhor e sua mulher de azul e mise exactamente
no momento em que leve
ágil
animal
pisa o chão duro e frio do salão
um valente Rodolfo Valentino conhecido
do casal
Alarga-se o sorriso de gambas róseas
na boca do senhor
um adeusar de sua mão papuda
em louvor
do amigo Rodolfo
Ela de faces em rosácea e alva dentadura
logo revelada
fica enlevada
mas honesta na Cervejaria pensa:
– Meu marido dá-me todo o conforto do lar
dá-me gambas ao jantar
e mais logo dá-me quatro horas de Bem-Hur na plateia
onde a moda nova oferece as minhas pernas
às vistas desarmadas
dá-me futuro
recheio no seguro e o Rodolfo
só me daria aquilo com que sonhei durante
tanto tempo
amor, amor, amor apenas
antónio domingues
surrealismo abjeccionismo
antologia selecionada
por mário cesariny de vasconcelos
edições salamandra
1992
um senhor de óculos sem culpa
cabeleira densa e culpada de ir
até às sobrancelhas ligadas
e principais culpadas
da sua estúpida presença
a fazerem-no menos novo
do que um queixo entre enérgico e ovo
denuncia
dizia
um senhor e sua mulher de azul e mise exactamente
no momento em que leve
ágil
animal
pisa o chão duro e frio do salão
um valente Rodolfo Valentino conhecido
do casal
na boca do senhor
um adeusar de sua mão papuda
em louvor
do amigo Rodolfo
logo revelada
fica enlevada
mas honesta na Cervejaria pensa:
– Meu marido dá-me todo o conforto do lar
dá-me gambas ao jantar
e mais logo dá-me quatro horas de Bem-Hur na plateia
onde a moda nova oferece as minhas pernas
às vistas desarmadas
dá-me futuro
recheio no seguro e o Rodolfo
só me daria aquilo com que sonhei durante
tanto tempo
surrealismo abjeccionismo
antologia selecionada
por mário cesariny de vasconcelos
edições salamandra
1992