Sei que firme e fugaz aguarda sempre
junto do meu coração desabitado;
sei que um mínimo gesto bastaria
para o deixar entrar e não estar só.
Mas eu reforço paredes, vidros, portas;
peço ajuda a filósofos antigos:
«O que nada tem nunca perde nada;
tem todas as coisas quem nada deseja.»
Ouço os seus passos, seu rondar contínuo;
perto da minha janela canta e ri:
«Abre um momento, abre, quero dar-te
rosas vermelhas embriagadoras.»
Estou pronto para resistir, pronto
para longo assédio, fome, desamparo:
«Vai-te embora, amor, deixa-me em paz;
a ventura que me trazes dá-a aos cães.»
josé luís garcia martin
trípticos espanhóis 1º.
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1998