04 outubro 2020

edmundo de bettencourt / relâmpago

 
 
Um agudo gemido felino
incendeia-lhe os olhos.
E ei-la que de novo se recorta
nua e fosforescente no escuro.
 
Nas trémulas narinas, de prenhez, afilando-se,
zune electricamente
a insatisfação duma semente apenas.
 
Quer mais,
quer outras!
 
Cega do consciente amor que atrai,
tumultuária noite riscada de fulgores,
sonha o inteiro fruto.
 
 
 
 
edmundo bettencourt
poemas surdos 1934-1940
poemas de edmundo de bettencourt
assírio & alvim
1999

 

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