25 outubro 2020

nicolau saião / poemas desenhados

 
3. CARBAJAL
 
A gente podia
combinar isto de antemão. Eu dizia:
coloca neste ponto uma pedra. E tu punhas
o sinal azul de um enorme jardim.
Depois eu dizia: aqui faz falta
o som de um apito. E tu desenhavas
três crianças desesperadas. A seguir
eu adormecia. E quando acordava
tudo estava terrivelmente silencioso.
 
Na porta, que se tornara transparente
estava pregado um papel amarfanhado.
Nele, estranhos riscos como feitos por garras.
 
Então aparecia de repente um anjo maneta
– que desatava a rir e de súbito se esfumava.
 
E sem sabermos como, era de novo manhã.
 
 
 
nicolau saião
apeadeiro
revista de atitudes literárias
n.º 2 primavera de 2002
quasi
2002

 



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