e da orelha de uma rapariga
tira vinte cêntimos
e uma pomba das mãos
que ela não sabia que lá estava.
O que é mais surpreendente,
pode perguntar-se:
o murmúrio denteado da moeda
de encontro ao polegar
ou o silêncio da pomba tocado pelos nós dos dedos?
Que ele os tenha descoberto
ou que ela não
ou que em Portugal,
neste preciso momento de breve pausa,
seja quase madrugada
e uma mulher numa cadeira de rodas
cante o fado
que coloca as vidas dos que estão na sala
num prato de uma balança,
a si no outro,
o os dois pratos em cobre se equilibrem.
a mulher do casaco vermelho
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2017