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04 abril 2023

jane hirshfield / fado

 



 
Um homem aproxima-se
e da orelha de uma rapariga
tira vinte cêntimos
e uma pomba das mãos
que ela não sabia que lá estava.
O que é mais surpreendente,
pode perguntar-se:
o murmúrio denteado da moeda
de encontro ao polegar
ou o silêncio da pomba tocado pelos nós dos dedos?
Que ele os tenha descoberto
ou que ela não
ou que em Portugal,
neste preciso momento de breve pausa,
seja quase madrugada
e uma mulher numa cadeira de rodas
cante o fado
que coloca as vidas dos que estão na sala
num prato de uma balança,
a si no outro,
o os dois pratos em cobre se equilibrem.
 
 
 
jane hirshfield
a mulher do casaco vermelho
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2017




12 outubro 2020

jane hirshfield / vinagre e azeite

 
 
A solidão pelas razões erradas avinagra a alma,
a solidão pelas razões certas lubrifica-a.
 
Que frágeis que somos, entre os raros momentos bons.
 
Indo e vindo incompletos,
intrigados com o destino,
 
como o relevo inacabado
 
 
jane hirshfield
a mulher do casaco vermelho
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2017


28 janeiro 2019

jane hirshfield / natureza morta




Fidelidade de um livro
ao seu lugar na estante
numa natureza morta.



É assim
que continuam os velhos amores.




jane hirshfield
trad. francisco josé craveiro de carvalho
eufeme
magazine de poesia
n.º 4 julho/setembro 2017







05 dezembro 2018

jane hirshfield / os meus olhos




Uma hora não é uma casa,
uma vida não é uma casa,
não se atravessam como se
fossem portas dando para outra.

Contudo uma hora pode ter forma e proporção,
quatro paredes, um tecto.
Pode deixar-se cair uma hora como se fosse um copo.

Alguns querem tranquilidade como outros querem pão.
Alguns querem sono.

Os meus olhos foram
à janela, como um gato ou um cão deixado sozinho.



jane hirshfield
a mulher do casaco vermelho
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2017