A chuva é um soldado triste,
uma sentinela sem sono. Espias
sua firme juventude. Ardem os lábios
em negra chama de melancolia.
Ruas lascivas sobem pelas suas pernas,
distante e firme não sorri.
Ávidas mãos pelo rosto imberbe,
mãos de névoa putrefactas insistem.
Silencioso acerca-se um cavalo
da água escura e fresca do desejo.
Ilumina-se a cara do soldado
num instante de lua, leve, longe.
Envolto em negra chama chamas
ao plural sentinela minucioso.
Imóvel, mudo, segue seu destino
noutro mundo, noutro tempo, noutro.
josé luís garcia martin
trípticos espanhóis 1º.
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1998