[…]
para que regresses para que a terra inche de maçãs
para que a égua e o lobo caminhem entre as dunas e o sopro da espuma
recebe-me ó
confuso amado que perdeste o amante
em alguma viela litoral («às portas, bem as vejo, do inferno»)
e dia a dia tomas o lugar deixado
recebe-me, boca luminosa por dentro cheia de folhas quando
adormeço a tua cabeça descansa nos meus dedos
não pelas palavras que abandono não pelo verso («a lira
nos ramos altos estremecidos pelo vento»)
para nada lembrarmos para nada esquecermos
para que a voz se deite no lençol e olhando
veja a pequena terra em que nasci
o sossego das grandes chuvas desabando no pátio e o respirar da casa
o rosto de minha mãe
recebe-nos, coração do outro lado da porta onde toda a noite escutas
os passos do colibri e da cobra inocente
ainda levando à boca com dextras mãos um pedaço de pão
não deixes que seja dura a nossa memória apaga-nos
sem fotografia dos vetustos livros
por mim quero esta manhã de fresco sol entre as árvores douradas de
amarelo
[…]
antónio franco alexandre
oásis
assírio & alvim
1992