Poema junto à ponte em Ten-shin
Março chegou ao contraforte da ponte,
Sobre mil portões pendem ramos de pêssegos e de alperces,
Pela manhã há flores de cortar o coração,
E o anoitecer leva-as com as águas para leste.
Há pétalas nas águas já passadas e nas que passam,
E no retornar dos redemoinhos,
Mas os homens de hoje não são os homens de outros tempos,
Embora de modo igual se debrucem sobre a ponte.
A cor do mar move-se ao amanhecer
E os príncipes ainda estão em filas, junto ao trono,
E a lua cai sobre os portais de Sei-jõ-yõ,
E pega-se às paredes ao topo do portão.
Com capacetes cintilantes contra a nuvem e o sol
Os nobres saem da corte, para fronteiras distantes,
Montam cavalos que parecem dragões,
Cavalos com cabeçadas de metal amarelo,
E as ruas abrem alas para que passem.
Altiva a sua passagem,
Altivos os seus passos a caminho dos banquetes,
Dos grandes salões com comida esquisita,
Do ar perfumado e raparigas a dançar,
Das flautas límpidas e do cantar límpido;
Da dança dos setenta pares;
Das perseguições loucas pelos jardins.
A noite e o dia são dados ao prazer
Que eles pensam durará por mil Outonos,
Inesgotáveis Outonos.
Para eles os cães amarelos uivam presságios em vão,
E que são eles comparados com a senhora Ryokushu,
Que foi causa de ódio!
Quem entre eles é um homem como Han-Rei
Que partiu sozinho com a amante,
Ela de cabelo solto, e ele o seu próprio barqueiro!
(Rihaku)
ezra pound
cathay
tradução gualter cunha
relógio d´água
1995