II
Esta bota preta não tem misericórdia por ninguém.
E porque deveria ter, se é a carreta de um pé morto?
O pé alto, morto e sem dedos deste padre
Que bombeia o poço que o seu livro é,
A página dobrada à sua frente como cenário.
Biquínis obscenos escondem-se nas dunas,
Peitos e ancas de confeitaria, açúcar de
Pequenos cristais, cintilando à luz,
Enquanto uma poça verde abre o olho,
Doente com o que tem engolido –
Membros, imagens, gritos. Atrás dos abrigos de cimento
Dois amantes despegam-se um do outro.
Ó branca loiça do mar,
Quantas chávenas de suspiros, quanto sal na garganta…
E o espectador, a tremer,
Esticado como um pano grande
Através de uma calma virulência,
E uma alga, peluda como as partes.
sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996