17 maio 2024

miguel filipe mochila / cravo


 

 
Entre os mil cravos da minha infância, escolhi o branco
          e breve aquele
que em San Juan achei havendo-o perdido
a milhares de quilómetros de Porto Rico
em meio do asfalto
em outro santo ido
Bento este, pobre
Ou seja, do Mato, vulgo Azaruja.
Morto, foi da morte que o colhi. Como explicar
que por o não ter visto nunca
outra vez além o vi.
Andar a tempo não é o mesmo que andar atento.
A gente desperta um dia neste estranho, estranho
          mundo, e principia sempre em,
e chega sempre, ao estrangeiro:
cândidas, e logo apaixonadas, e enfim frustradas, se nos
          perdem as coisas, as ideias, as grandezas,
e sobram-nos só aquelas, frugais e fraternas, que
          perdemos na infância.
A isto chamamos beleza, mas a beleza
está só nas coisas belas, e elas fogem-nos sempre, para
          que possamos
continuar a dizê-las belas, a beleza.
Como aquela flor da infância:
como explicar
que num futuro
campo
é que a perdi.
 
 
 
miguel filipe mochila
nervo/21
colectivo de poesia
maio/agosto 2024
 



 

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