Corpo meu, agora que não viajaremos juntos por
muito mais tempo,
começo a sentir por ti uma renovada ternura, muito
crua e
desconhecida,
como aquilo que recordo do amor quando era jovem –
um amor que tantas vezes foi tolo nos seus
objectivos,
mas nunca nas suas escolhas, nos seus ardores.
Demasiado exigido à partida, demasiado o que não
pôde ser
prometido
–
A minha alma tem sido tão temerosa, tão violenta:
perdoa a sua brutalidade.
Como se fosse essa alma, a minha mão desliza
cautelosa por ti,
não querendo ofender,
embora ansiosa, enfim, por conseguir expressar-se
enquanto
substância:
não é da Terra que irei sentir falta,
é de ti que irei sentir falta.
louise glück
uma vida de aldeia
tradução de frederico pedreira
relógio d´água
2021