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12 dezembro 2022

josé mateos / em breve cairá a noite

 



 
O tempo leva afectos e amizades
e um vento cruel corrompe os nossos sonhos.
Até que um dia, por fim, nos damos conta
de que estamos sozinhos.
                                     Nada, nem os livros
que principiam a falar quando os abrimos,
nem os versos que fomos despertando
para adiar e fugir do nosso rosto
enchem um vazio, formam uma pátria.
 
Em redor de nós é tudo simples,
ou assim parece: o pássaro na antena,
a nuvem anónima no céu luminoso…
Para nós, porém, crescem as sombras,
ninguém para nós acende a luz.
 
Sem esperança, sem fé outra tarde morre.
E é esse o disco riscado da vida,
o frouxo amor, a idade do desencanto.
 
 
 
josé mateos
poesia espanhola de agora vol. II
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997




13 setembro 2011

josé mateos / noite




Até de madrugada falámos e bebemos,
não interessa onde nem quais os assuntos.
Sobre as nossas palavras calado o firmamento
e querer desvendá-lo era mais do que um capricho.

Para quê tanta frase desdobrando uma ideia?
Para quê tanta citação tirada de livros?
Bastava o teu olhar para apagar a neblina
e as nossas intuições profundas de sentido.

Se tal noite calada era a noite de nós dois
e o amor, água escura de um saber infinito.







josé mateos
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000