13 dezembro 2022

louise glück / encruzilhada




 

 
Corpo meu, agora que não viajaremos juntos por muito mais tempo,
começo a sentir por ti uma renovada ternura, muito crua e
          desconhecida,
como aquilo que recordo do amor quando era jovem –
 
um amor que tantas vezes foi tolo nos seus objectivos,
mas nunca nas suas escolhas, nos seus ardores.
Demasiado exigido à partida, demasiado o que não pôde ser
          prometido –
 
A minha alma tem sido tão temerosa, tão violenta:
perdoa a sua brutalidade.
Como se fosse essa alma, a minha mão desliza cautelosa por ti,
 
não querendo ofender,
embora ansiosa, enfim, por conseguir expressar-se enquanto
          substância:
 
não é da Terra que irei sentir falta,
é de ti que irei sentir falta.
 
 
 
louise glück
uma vida de aldeia
tradução de frederico pedreira
relógio d´água
2021



 

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