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Quanto ao livro, nada mais.
Passemos ao leitor.
Porque, mais instrutivos ainda do que os modos de
tratar os livros, são os modos de os ler.
Em matéria de leitura, nós, os «leitores», temos
todos os direitos, a começar pelos que recusamos aos jovens que pretendemos
iniciar na leitura.
1)
O direito de não ler.
2)
O direito de saltar páginas.
3)
O direito de não acabar um livro.
4)
O direito de reler.
5)
O direito de ler não importa o quê.
6)
O direito de amar os «heróis» dos romances.
7)
O direito de ler não importa onde.
8)
O direito de saltar de livro em livro.
9)
O direito de ler em voz alta.
10) O direito de não falar do que se leu.
Parei arbitrariamente no n.º 10, primeiro porque é
uma conta redonda, depois porque é o número sagrado dos famosos Mandamentos, e
também porque é agradável, pelo menos uma vez, servir para uma lista de
autorizações.
Porque se queremos que o nosso filho, a nossa
filha, a juventude leiam, é urgente outorgar-lhes os direitos que outorgamos a
nós próprios.
daniel
pennacc
como um
romance
trad. francisco paiva boléo
edições asa
1994