Às vezes a febre regressa e eu posso ver as montanhas,
a manhã cheia de freiras que passam
e as terríveis seringas,
as árvores rapaces, as falsas cataratas brilhando com aranhas,
as vinhas do silêncio.
Vejo as mesmas montanhas surdas, com as suas bocas cobertas de neve,
e movo um pouco os meus dedos; ainda assim,
preciso de ajuda.
Às vezes a febre vagueia ao anoitecer pelos subúrbios.
Às vezes há apenas uma montanha, meso por cima das nossas cabeças.
Ao meio-dia começa a chover. Os cavalos escondem-se entre as rochas,
e o mar idiota lá está.
De vez em quando preciso de ajuda.
«Naquele dia dois mil homens morreram nessa praia infinita.»
Para nós:
tubarões, estanho, água estagnada.
Oito doenças à
noite
enquanto o
escorpião se agarra ao tecto.
Para nós: arame
farpado, bocas abertas, sangue seco,
as cabeças peludas
das tarântulas
e o constante olho
cego
do tempo,
congelado no ar.
O vento cai em
pedaços
pelos caminhos da
montanha.
Temos de gritar
sem tréguas –
aquele que pára
está perdido.
1938
paul bowles
poemas
trad. josé agostinho baptista
assírio & alvim
2008