29 junho 2023

paul bowles / cena VII

 
 
Secar é a única missão do sol.
Não é o prazer dos insectos ou o chicote dos morcegos.
A salgada erupção depois do amor,
Que sabes tu dessas coisas, tu que o devias saber?
O fogo lento, o banho dormente,
A tua ignorância do porvir, a tua surda bondade.
Os farrapos do sol esvoaçam para ferir os teus olhos.
A cama é um refúgio, mas há mosquitos no quarto.
Ranger de dentes, ausência de lágrimas, inércia.
Um forte abraço, nenhuma faca, a tua falsa surpresa.
O sol movia-se, e a terra, noutros tempos.
Agora os abutres voam muito alto, mudos, sobre os sinos.
 
 
                                                                              1940
 
 
paul bowles
poemas
trad. josé agostinho baptista
assírio & alvim
2008
 


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