tenho sempre laranjas escondidas no fundo das algibeiras
berlindes como olhos assustados de pantera, cordéis encerados
bons para estrangular
lâminas doces para abrir sinais de vida sobre a pele
e uma faca quebrada que me ajuda a recordar alguns nomes de cidade
quem PERDE GABHA
sabemos que o veneno age sempre dos pés para a cabeça
estonteia
espero, atento à última convulsão
retiro a faca profundamente enterrada, recuo um pouco
contemplo o sangue e a obra, esvazio as algibeiras
substituo os objectos, descalço as luvas
apago as impressões digitais, falsifico as fotografias
lavo demoradamente o sangue e o esperma da boca
saio para a rua, clandestino
procuro outro puto tardio pela cidade
seduzo-o com a imagem deslavada duma laranja, recomeço
o inocente jogo
alguns truques de ilusionismo 1979/80
o medo
assírio & alvim
1997
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