Se o sono fosse (como dizem) uma
Pura trégua ou repouso para a mente,
Porque é que, se te acordam bruscamente,
Sentes que te roubaram a fortuna?
Porque é tão triste madrugar? A hora
Despoja-nos de um dom inconcebível,
Tão íntimo que só é traduzível
Numa modorra que a vigília doira
Com sonhos, que bem podem ser parciais
Reflexos dos tesouros que há na sombra
De um orbe intemporal que não tem nome
E que o dia deforma em seus cristais.
Quem serás esta noite no obscuro
Sono, do outro lado do seu muro?
jorge luís borges
obras completas 1952-1972 vol. II
o outro, o mesmo (1964)
trad. fernando pinto do amaral
editorial teorema
1998
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