18 junho 2023

gil de carvalho / discours de la méthode

 
 
É verdade. Amanhã não terás tão pouca seca na varanda.
Penso, logo, a ferida.
Corres ao longo da casa, feliz, aprendes
Costura, o riso na corda dos portões,
Uma casa de correcção para os lábios,
Abertos, dizem todos.
Mal te conhecem, e nunca lembram
Da pá que procura terra perdida
Vês na boca
Quente, um vestido, ao vento traz
A tua pele. Ergo, «uma certeza».
A febre na veneziana que nada esconde
Da tua vida, entre finas persianas,
Vi-te, áspera já na luz
Cauterizada, perdida naquela rua,
Antes, ninfas que pelo cheiro na varanda
O vulcão comprima. O fundo cortado à saída
No pudor sem astros, História. ‘Manhã
Descobres terra, infinita, invisível ainda
Fria.
 
 
gil de carvalho
hífen 6 fevereiro, 1991
cadernos semestrais de poesia
heresias
1991
 



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