HÁ muito quem gabe o gosto de partir e eu mesma já
o tenho invejado. Aqui há não sei quantos anos a minha vontade era partir, ter
saudades, deixar isto, não assentar o pé, ir voando. Já se sabe que era a
fantasia que me levava. O mundo era pequeno e pouco para mim…
Hoje penso que partir é muito custoso. Partir é
deixar um bem ou um mal, real e conhecido, pelo vago sem delimitação. Vai.se
vivendo e tudo se nos vai restringindo… Aquilo que se não conhece, como será? Teremos
defesa, resistência, não haverá surpresas, lutas, incapacidade de acomodação?
E aquele ante-partir, aqueles dias de desarreigar,
de pensar no cá e no lá?...
irene lisboa
queixa
solidão II
portugália editora
1966
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