Têm os olhos verdes, no sul,
os rapazes; a pele, uma alameda.
Caule ou cintura o seu suporte. Andam
em multidão, parecem bosques. Nunca
nenhum deles passa sem que se note.
Sabe-se não ser seu o coração;
do amor, sim, as asas. Temerosos
frutificam ao sol por lhes tocarem
umas pupilas. Lutam ou abraçam-se.
Ao seu redor, espelhos.
No
verão
os rapazes do sul descem ao mar,
e no gume da praia
gritam dourados. Cálices pagãos,
estatuetas escuras quando mostram
em contraluz sua nudez esbelta.
Se nas cadeiras a luxúria pasta,
eles são aragem, riso
transparente, cúpulas os protegem,
invisíveis do fogo.
Os rapazes
beijam, no sul, debaixo das árvores
as faces suavíssimas; acariciam
seu cabelo virginal; os ventres níveos,
delgadas cinturas oferecendo.
Amam o dia porque são o dia.
Mas d enoite, sozinhos, ao luar
sua nudez contemplam.
Oh essa tristeza então! Essa treva
inimiga dos adolescentes!
A solidão, em lençóis branquíssimos
até à alba, corrompe.
O sul,
porém, tem noites breves. Marcam cedo
os seus encontros os rapazes, nas praças
as fogueiras ateiam dos seus peitos,
debaixo de inquietas mãos.
Mas não falam disso. Antes de música
Sempre, da vertigem que passa. Nunca
dizem o nome do amor. Talvez
ignorem sua eterna juventude:
séculos de solidões e de desejos.
Os rapazes do sul são imortais.
francisco bejarano
poesia espanhola de agora vol. I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997