Não quero as tuas hossanas prováveis
A tua face ou a Sodoma dos gritos
A tua presença o teu destino
De alquimista que descreve
Um santuário de neve
E do teu perfil irisado – eu falo
Na propícia penumbra ausente de olhares
Fixando o rumo dos navios que dispersos
Ajustam contrapõem e encobrem
O fulcro temporal das luzes nocturnas.
Não falo das cinzas dos cirurgiões ou dos cegos
Falo desta terra da corrente desobediente
Do estilhaço que à superfície das águas corre
Quando a maré vem e os barqueiros dormitam
Golpeando as gargantas deixando adivinhar
A língua de fogo o seu astro maldito.
Não falo desta oportuna parcimoniosa lamentação
Do que vem ou foge regressando no vento – os perfumes acres
O cheiro animal
Do homem que no cais fita a lua
Destes homens e mulheres de pastoril juventude
dormitando
vivendo gravitando vivendo
Ah eu falo-te meu amor eu falo-te
E a tua imagem surge até na mais disforme poeira
Nos braços que lanço sobre o muro
Do que procuras antevês
E sempre distante entre a porta que rodeias
E o meu fantasma
Solta o grito o animal tresloucado.
Temos um vago desenhar de circunstância
Que não nos aproxima mas adivinha-nos
A parábola activa talvez a verdadeira força
O sangue que aflui
E a criança que vagarosamente sobe a escada
E em silêncio precipita-se no vácuo.
carlos eurico da costa
aventuras da razão
livraria morais editora
1965