Está de súbito o dia clareado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que sem dúvida ocorre no passado.
Quem a ouve cair vê recuperado
Esse tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor chamada rosa
E a curiosa cor do encarnado.
Esta chuva que vai cegando os vidros
Alegrará em arredores perdidos
As uvas de uma parra em certo horto
Ou pátio já esquecido. Esta molhada
Tarde me traz a voz, voz desejada
Do meu pai que regressa e não está morto.
jorge luís borges
obras completas 1952-1972 vol. II
o fazedor (1960)
trad. fernando pinto do amaral
editorial teorema
1998