02 novembro 2018

ferreira gullar / arte poética




Não quero morrer não quero
Apodrecer no poema
Que o cadáver das minhas tardes
Não venha feder em tua manhã feliz
                               E o lume
Que tua boca acenda acaso das palavras
– ainda que nascido da morte –
some-se
                               aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
                               no presente veloz

Nada que se pareça
a pássaro empalhado múmia
de flor
dentro do livro
               e o que da noite volte
volte em chamas
                ou em chaga

                vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira




ferreira gullar
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001









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